Wednesday, December 20, 2006

Jovens*

Ah, os jovens, como eu os odeio. É tanto ódio que não existem palavras suficientes para eu verbalizar tudo o que eu sinto por eles.
Andando pela cidade, facilmente tropeço em seus piercings, suas tatuagens, suas gírias, seus hormônios.
Reproduzem-se como Gremlins, onde quer que você vá existe um deles à espreita, pronto para dar o bote.
Pensam que são o futuro do país, mas não têm passado. São gerações sem infância, que perdem a virgindade e o juízo ainda em tenra idade. Bebem, fumam, se drogam, se auto-afirmam.
Atacam em bandos, montam bandas e estão sempre por estas bandas.
Não fazem nada a não ser consumir. Consomem e são consumidos pelo tempo, que nada devolve, muito menos o tempo perdido.
Passam horas à frente da TV, nos shoppings centers, jogando vídeo-game, nas lan houses.
Quando nos encontramos com jovens, somos atacados por sua arrogância.
Sentem-se donos da verdade, donos do mundo, seres privilegiados e superiores.
Agridem-nos com sua jovialidade, com seus poucos anos, esfregam sua energia e disposição em nossas caras, nos desafiam, nos provocam, nos humilham.
São nossos filhos, netos, mas, na verdade, nem nossos amigos são. Possuem linguagem própria, seguem a moda que vêem na TV, simpatizam-se com ídolos igualmente revoltados sem nenhuma idéia na cabeça e um monte de palavrões na boca suja.
São infelizes, mas ocultam este segredo.
Corpos sarados, correntes, calças largas, raps, tudo esconde o poço de infelicidade em que se afundaram.
Cospem, xingam, incomodam, mas são vazios, vivem em crise, oprimidos, rejeitados, deslocados.
São alvos das propagandas, da maioria delas, e são amplamente influenciados por elas. Tomam o american way of life como verdade absoluta, como estilo de vida, como estado de espírito.
Mas o que será que aflige tanto nossos jovens?
A verdade é uma só, meus amigos.
Mesmo com tanta coisa legal, tantas experiências sexuais, tantas viagens e um mundo todo para descobrir e conquistar, o jovem se deprime porque sabe o que o espera.
O jovem sabe que ele se tornará o que ele tanto odeia: um de nós.

* Texto escrito em 16.01.05.

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