Monday, November 20, 2006

O presépio de Eusébio

Ah, o Natal.
O clima natalino contagia as pessoas. As famílias ficam mais unidas, as pessoas mais solidárias, as casas enfeitadas e iluminadas e o coração humano bate mais forte.
Eusébio é um funcionário público que adora o Natal. Adora enfeitar sua árvore, ritual que uma vez por ano realiza com maestria, colocando todas as bolas, lâmpadas, miniaturas de papaizinhos Noéis e toda a sorte de badulaques e tranqueiras possíveis.
Mas o que realmente dá prazer a Eusébio e é motivo de orgulho é o seu pequeno presépio.
Com sua religiosidade ferrenha e sua personalidade calma, Eusébio vai montando quietinho e sempre sorridente aqueles bichinhos, maguinhos e todas as figurinhas sagradas que ele, em todos os sentidos, adora.
Eusébio volta a ser criança, revive sua infância, quando ao invés de brincar de forte apache como as crianças normais, deliciava-se encenando a Paixão de Cristo e outras passagens bíblicas do Novo e Velho Testamento.
Enquanto manuseia cuidadosamente suas personagens, Eusébio fecha-se numa redoma de vidro.
O fantástico mundo de Eusébio, onde anualmente recria-se, como numa peça teatral, o fantástico milagre do nascimento do deus-menino.
Nada pode estragar este momento de êxtase.
Nada a não ser Dona Gumercinda, a empregada doméstica de Eusébio, que com seu espanador estabanado tira o pó e a vida do recém-nascido.
Por alguns instantes, o silêncio e um mal-estar tomam conta da sala de estar.
Eusébio, com o olhar perdido no horizonte e engolindo seco, junta todas as suas forças e diz com suas doces e pausadas palavras:
- Êta véia escrota du caraio!
O Natal e o presépio de Eusébio nunca mais foram os mesmos depois daquele fatídico dia.

Eduardo Spinelli é redator publicitário e, nas horas vagas, escreve textos escrotos como este.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home