Por que não gosto de finais felizes
Como toda criança, eu cresci sonhando com finais felizes. Ou happy endings, como dizem os americanos. Assistindo aos filmes de Hollywood e lendo os contos de fada, eu sempre acreditei que, no final, todos nós seríamos felizes para sempre. Sempre torci para o mocinho acabar com os bandidos, sempre torci para o bem vencer o mal e sempre torci para que os casais ficassem juntos e dessem um daqueles intermináveis beijos de novela.
Foi assim até 99, aquele fatídico ano em que meu mundo caiu. Quem me conhece sabe do que estou falando. A partir daquele ano, passei a gostar mais de filmes reais, em que o amor, o bem e a felicidade não necessariamente triunfavam no final. Filmes como “Uma carta de amor”, “Patch Adams - O amor é contagioso”, “Doce Novembro” e “Cidade dos Anjos” me ensinaram muito mais sobre o amor do que as comédias românticas da Julia Roberts, que passavam na Sessão da Tarde.
Comecei a achar que eu havia me tornado uma pessoa amarga, pessimista e mórbida, por preferir filmes em que o final feliz sempre perdia a batalha para o seu maior inimigo: a morte.
Foi então que eu me lembrei de uma frase atribuída a Gandhi: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”. Partindo desse princípio, cheguei à conclusão de que não pode existir um final feliz, pois a felicidade está no meio, no percurso. Ela está onde você nem imaginava encontrá-la: dentro de você mesmo. Ou seja: “final” e “feliz” são paradoxos que não cabem na mesma frase. A única coisa que você vai encontrar no fim da vida é a morte. Isso é fato, é a única certeza que temos desde o dia em que nascemos. Sendo assim, você tem duas escolhas: ou passa o resto da sua vida à procura de uma felicidade utópica ou aproveita cada segundo da sua vida como se fosse o último. Eu escolhi a segunda opção. Um exemplo: no fim de semana passado, conheci uma pessoa inteligente, sensível, divertida e incrivelmente sexy. Decidi pela primeira vez na vida, me preocupar somente com o aqui e agora, sem fazer planos e criar expectativas. E quando ela partiu, eu só conseguia pensar em um diálogo do filme “Cidade dos Anjos”, um dos mais belos que já vi: “Eu prefiro tê-la beijado uma vez, tê-la abraçado uma vez, tê-la tocado uma vez, do que passar a eternidade sem isso”. Depois disso, fechei os olhos e sorri. Eu sabia que, pelo menos naquele dia, nós dois vivemos felizes para sempre.
1 Comments:
I just want you to know who I am
11:01 AM
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