Wednesday, January 10, 2007

Carnaval*

É Carnaval. Época de liberar as fantasias. É a chance do sexo livre, do travestir sem crise de identidade, da bebedeira com um álibi acima de qualquer suspeita. Os confetes grudados na pele suada, o cheiro de éter no ar, os tamborins que não cessam até o sol raiar, a camisinha que estourou na hora H. O menino que vai nascer sem saber qual dos foliões é o seu verdadeiro pai, a doença venérea que esticará o Carnaval como na Bahia, as marchinhas que grudam na cabeça como chiclete, os corpos sarados e bombados que desfilam como frangos assados em padarias decadentes. A menina que não gostava de ler, mas descobriu o sucesso que suas belas nádegas fazem ao rebolar em cima de um trio elétrico. O Batman que invocou com o palhaço, e vice-versa, iniciando uma verdadeira briga de galo na passarela. Resultado: um Robin órfão. Uma poça de sangue. Os faxineiros terão mais trabalho, além das serpentinas, confetes, leques com letras de samba-enredo, mensagens publicitárias, e preservativos usados. É, o Carnaval está acabando. Vou sentir saudades. É o ópio do povo, um mal necessário, uma válvula de escape para um povo tão reprimido. Reprimido por uma falsa democracia, em que são devotos a um deus não por respeito, mas por medo. O Carnaval continua sendo a melhor desculpa para tudo. Para todos os erros que cometemos. E na Quarta-Feira de Cinzas, o profano, de ressaca, finalmente encontrará o sagrado.

* Texto escrito em 07/02/05.

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