Saturday, October 18, 2008

14 de outubro. A verdade está lá embaixo.

O dia amanhecera como qualquer outro. No céu não havia nenhum sinal de que a profecia se realizaria. E em Noel, nenhum sinal de que sairia da janela. O dia passou e ele nem havia percebido. Não foi trabalhar, não foi almoçar, ficou ali, o dia todo parado, no apartamento 313, com sua luneta mirando o céu. Há um mês ele esperava este grande dia. Há exatamente um mês, ele havia lido uma notícia na internet sobre a chegada de alienígenas. Ele, que crescera vendo filmes do Spielberg e assistindo aos episódios de Arquivo X. Ele, que tinha um cartaz colado na parede do quarto, bem em cima da cama, com a frase “I want to believe”. Um cartaz igualzinho ao do Mulder, seu ídolo. Já fazia umas três horas que sua noiva chegara.
- Amor, vem pra cama, vai. Eles não vêm.
- Claro que vêm. Eu vi na internet.
- Ah, tá bom. Você acredita em tudo que lê na internet? Se disserem que o Elvis vai descer da nave você também acredita, é?
- Fica quieta. Tá me desconcentrando.
- Amor, vem logo, vai. Eu tô com saudade.
- Espera, espera, tô vendo alguma coisa.
- Que foi, amor, que foi que você viu?
- Ah, que saco, era só uma estrela cadente.
- Amor, tô falando: eles não vêm.
- Eles vêm sim. E vão me levar para dar um passeio na nave.
- Ah, tá. Vão é te abduzir, esses alienígenas filhos da puta. Vão te abduzir e enfiar uma sonda anal no teu rabo.
- Já falei que eles são amigos. Vêm em missão de paz e amor.
- Amor. Amor é o que você devia estar fazendo comigo agora. Vem, amor, tô morrendo de vontade, vai.
- Só mais um pouquinho, só mais um pouquinho.
- Ah, quer saber? Vou lá embaixo comprar cigarro.
Horas se passaram. A nave não apareceu e a noiva nunca mais voltou. E aquele tão esperado dia, que seria lembrado como o dia em que Noel finalmente seria abduzido, passara a ser o dia em que sua noiva fora abduzida no elevador do prédio pelo Carlão do 213, que segundo ela tinha uma luneta bem maior que a do Noel.

*Eduardo Spinelli é um alienígena devorador de cérebros disfarçado de blogueiro. Acredita que, por meio de seus textos, será possível controlar as mentes dos seres humanos e, com isso, finalmente escravizá-los.