Friday, December 22, 2006

Royale with Cheese


Muita gente pensa que o filme de Tarantino é sobre violência. Eu não o vejo assim. Bem, de certa forma, é sim sobre a violência, na verdade, o pior tipo dela: o racismo. Preste atenção: em Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction, EUA, 1994), a violência é apenas uma conseqüência das diferenças étnicas mal resolvidas entre as personagens. Ou você já viu algum outro filme que utilize tanto a gíria pejorativa “nigger” (algo como “negão”, em português) nos diálogos? E o que é pior: em vários momentos, você vê negros utilizando a expressão para se referir a outros negros. Nem os filmes de Spike Lee são tão explícitos assim. Com um roteiro primoroso (não é à toa que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original) e com uma narrativa inovadora (infelizmente, imitada à exaustão por diretores bem menos talentosos de Hollywood), o filme é um retrato do preconceito racial existente - e muitas vezes camuflado - em Los Angeles, mote repetido 10 anos mais tarde pelo excelente, mas não tão impactante, Crash - No Limite (Crash, EUA, 2004). Um exemplo do que estou querendo dizer é a clássica discussão entre a personagem branca (Vincent Vega, interpretado por John Travolta) e a negra (Jules Winnfield, vivido pelo ótimo Samuel L. Jackson) sobre as diferenças culturais entre a América e a Europa. Utilizando todo o seu repertório pop, Quentin Tarantino tece um diálogo brilhante sobre fast food, em que John Travolta pergunta a seu colega gângster o porquê de, na Holanda, o Quarteirão com Queijo, um dos sanduíches mais populares da cadeia de lanchonetes Mc Donald´s, chamar-se Royale with Cheese. Após a negativa do amigo, Travolta explica: é por causa do sistema métrico diferente. Mais tarde, vemos Jules fazendo a mesma pergunta a um jovem traficante, branco. O rapaz, sem muito esforço e para surpresa de Jules, dá a resposta correta, deixando no ar uma suposta superioridade intelectual branca sobre a negra. E não pára por aí: Jules mata um garoto branco (o mesmo que deu a resposta certa), enquanto Vincent dá um tiro, mesmo que acidentalmente, em um jovem negro. Coincidência ou uma clara alusão ao ódio racial? Seja como for, Pulp Fiction, definitivamente, não é um filme sobre violência, gângsters, drogas, boxe ou teologia. É sim sobre brancos querendo, o tempo todo, foder negros. E vice-versa. Em alguns momentos, foder é uma metáfora, noutros é literalmente o que vemos, de forma explícita e aterrorizante, na tela.

* Eduardo Spinelli é escritor, roteirista, cinéfilo e, agora, com este texto, metido a crítico de cinema, mesmo que seja só pra tirar uma onda.

Os 10 filmes a que você deve assistir antes de morrer*

1. Clube da Luta (Fight Club)
2. Beleza Americana (American Beauty)
3. Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction)
4. Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich)
5. Amores Brutos (Amores Perros)
6. Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream)
7. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d´Amélie Poulain)
8. Assassinos por Natureza (Natural Born Killers)
9. Trainspotting - Sem Limites (Trainspotting)
10. Corra, Lola, Corra (Lola Rennt)

* Irreversível (Irreversible) também deveria estar no Top 10, mas fiquei com medo de você morrer justamente por assisti-lo, caso tenha algum tipo de problema cardíaco.

Thursday, December 21, 2006

Leia antes que o ano acabe.

A vida é um mar de ilusões? Não, não é, meu amigo, não seja tão pessimista. Esta é uma péssima idéia sobre a vida. Você precisa parar de desconfiar tanto das pessoas. Pare de desconfiar da própria sombra. E para a sua mãe, você tem ligado? Pelo menos para dar um “oi”, dizer que você está bem, mostrar que se importa com ela. Arranje um tempinho, vai. Não custa nada. Uma ligação vai fazer toda a diferença para ela. Vai fazê-la chorar. Mas de alegria, de emoção. E os seus amigos? Você nem mesmo retorna as ligações deles. Mas que raio de amigo desnaturado é você, hein? Convide-os para jogar conversa fora num boteco, compartilhe sua vida, suas emoções, ouça atentamente os conselhos que eles têm para lhe dizer. Acima de tudo, viva. Viva como se fosse a última vez, viva com a certeza de ter vivido da melhor maneira possível. Dê um beijo na sua esposa, brinque com seus filhos, saia para passear com o cachorro, vá ver o sol, o céu, o mar, dê um bom mergulho no mar, saia caminhando sem destino, sem hora para voltar. Esqueça por alguns minutos todas as suas preocupações, sua rotina, seus compromissos, suas angústias. Faça coisas que lhe dêem prazer. Aquelas pequenas coisas, sabe, que passam despercebidas no dia-a-dia. Fazendo isso, você vai ver que a vida não é um mar de ilusões. É sim um mar, um oceano infinito, que precisa ser explorado. Mas que, para isso, você precisa das algumas braçadas. Ilusão não é viver. Não se iluda: viver é bom, mas só se vive uma vez na vida.

* Texto escrito em 14/01/06.

Wednesday, December 20, 2006

Lucy Anna in the Sky with Diamonds


Me dê as mãos. Vamos dar uma volta, sair para caminhar, espairecer, pensar na vida, discutir a relação. Tome, mastigue uma destas frutinhas vermelhas. Gostosas, não? Quantos dedos você vê nesta mão? Pronto, continue andando. Vamos até aquela árvore velha. Veja! Ela tem um buraco. Vamos entrar por ele. Bom-dia, Dona Árvore, tudo bom? Aqui estão os nossos bilhetes. Ah, sim, embarque pelo portão C. Oh, com licença, Seu Coelho. Aonde vai com tanta pressa? Humm, nossas poltronas são de chocolate? Parecem deliciosas. Posso experimentá-las? Posso transar com sua esposa, Sr. Coelho? Tudo bem, então vamos trocar. Nossa, Seu Coelho, já? Que cigarro é esse, é feito de cenoura? Dá barato? Deixa eu dar um trago. Que filme é esse que tá passando? Ah, já assisti. O canguru paraplégico morre no final. Mas o ciclope e a libélula ficam juntos no final e vão viver felizes para sempre. Ah, posso dar mais um pega, Seu Coelho?

Ora, bolachas...


Sempre gostei de mídias alternativas. São mais baratas, mais ousadas e, muitas vezes, mais eficientes. Sempre gostei também daquele clima descontraído de boteco. Grupos de amigos rindo e falando alto, mulheres belas e feias xavecando e sendo xavecadas, cerveja gelada, cheiro de porções de fritas ou de bolinho de aipim com carne seca no ar, o garçom gente boa que vez ou outra trazia a saideira. Neste contexto, o provável consumidor já está mais pra lá do que pra cá. Por que então não soltar a criatividade naquelas tradicionais e mal aproveitadas bolachas de chopp? Pelo que eu me lembro, estas peças não foram de fato produzidas. Mas estavam bem alinhadas ao conceito de campanha que acabou virando slogan da marca: “Tudo por você”. Os desdobramentos são estes que vocês podem ver acima. Mensagens bem-humoradas e que falam de forma direta com o público freqüentador de bares e bebedor de cerveja. “Fazemos tudo por você. Até segurar seu copo enquanto você fala mal do chefe.” e “Fazemos tudo por você. Até segurar seu copo enquanto você vai ao banheiro.” são bons exemplos disso. Quem sabe alguém não utiliza esta idéia um dia?

O case Sirilimpo


Esta é uma daquelas campanhas que dá gosto a gente fazer. Isso porque uniu duas coisas com as quais me identifico: a linguagem dinâmica dos quadrinhos e a responsabilidade social do profissional de propaganda. Foi bem bacana, tive que mergulhar no universo da coleta seletiva e pesquisar muito sobre reciclagem de lixo. Nem imaginam como sou grato à internet. O melhor foi adaptar aquela terminologia técnica e chata a uma linguagem mais leve, adequada ao público infantil. Apresentando personagens com nomes sugestivos como Sirilimpo e Zé Porquinho, a campanha conseguiu entreter e, ao mesmo tempo, informar. Além dos anúncios de jornal, que viraram objeto de culto das crianças, as quais passaram a colecioná-los e mostrá-los aos pais, o jingle também fez muito sucesso. Este foi o meu primeiro trabalho quase solo, já que o Diretor de Criação estava saindo da agência. Finalizei a letra, mandei produzir e, para minha surpresa, o jingle tornou-se um hit em São Sebastião. Fiquei sabendo que, por toda a parte, era possível ouvir as crianças cantando a música, que contava as peripécias do personagem principal e sua turma. Para um criativo, ouvir seu público cantarolar ou simplesmente assoviar uma criação sua é o melhor prêmio que se pode ganhar.

Jovens*

Ah, os jovens, como eu os odeio. É tanto ódio que não existem palavras suficientes para eu verbalizar tudo o que eu sinto por eles.
Andando pela cidade, facilmente tropeço em seus piercings, suas tatuagens, suas gírias, seus hormônios.
Reproduzem-se como Gremlins, onde quer que você vá existe um deles à espreita, pronto para dar o bote.
Pensam que são o futuro do país, mas não têm passado. São gerações sem infância, que perdem a virgindade e o juízo ainda em tenra idade. Bebem, fumam, se drogam, se auto-afirmam.
Atacam em bandos, montam bandas e estão sempre por estas bandas.
Não fazem nada a não ser consumir. Consomem e são consumidos pelo tempo, que nada devolve, muito menos o tempo perdido.
Passam horas à frente da TV, nos shoppings centers, jogando vídeo-game, nas lan houses.
Quando nos encontramos com jovens, somos atacados por sua arrogância.
Sentem-se donos da verdade, donos do mundo, seres privilegiados e superiores.
Agridem-nos com sua jovialidade, com seus poucos anos, esfregam sua energia e disposição em nossas caras, nos desafiam, nos provocam, nos humilham.
São nossos filhos, netos, mas, na verdade, nem nossos amigos são. Possuem linguagem própria, seguem a moda que vêem na TV, simpatizam-se com ídolos igualmente revoltados sem nenhuma idéia na cabeça e um monte de palavrões na boca suja.
São infelizes, mas ocultam este segredo.
Corpos sarados, correntes, calças largas, raps, tudo esconde o poço de infelicidade em que se afundaram.
Cospem, xingam, incomodam, mas são vazios, vivem em crise, oprimidos, rejeitados, deslocados.
São alvos das propagandas, da maioria delas, e são amplamente influenciados por elas. Tomam o american way of life como verdade absoluta, como estilo de vida, como estado de espírito.
Mas o que será que aflige tanto nossos jovens?
A verdade é uma só, meus amigos.
Mesmo com tanta coisa legal, tantas experiências sexuais, tantas viagens e um mundo todo para descobrir e conquistar, o jovem se deprime porque sabe o que o espera.
O jovem sabe que ele se tornará o que ele tanto odeia: um de nós.

* Texto escrito em 16.01.05.

Tuesday, December 19, 2006

O dia em que escrevi deus com caixa baixa*

Esta história aconteceu há muito tempo.
Cê não tá entendendo: há muito tempo.
Há tanto tempo que eu não me lembro se foi nessa vida, se é verdade ou ficção.
O certo é que se passou comigo, na minha infância.
Eu estava no colégio, não me lembro ao certo em que série. Lembro de ter mandado uma mensagem ultra-secreta num bilhete para Jiló, meu amigo judeu que estava ficando careca aos onze anos de idade.
Aliás, nunca me lembro se Jiló é com G ou J. Bom, isso não importa.
O importante é que no meio do caminho, Dona Aretha, minha professora de História religiosa, virgem e fundamentalista, interceptou o bilhete. Este comunicava de forma clara e objetiva: “Pelo amor de deus! Esconde isso dentro da calça”!
Diante do meu nervosismo, e do Jiló, vi com meus próprios olhos as faces de Dona Aretha tomarem uma coloração jamais vista, parecia que a mulher ia ter um treco.
Com um esforço sobre-humano, a pobre infeliz balbuciou algumas palavras, com fúria, que contrastavam com aquela voz doce e fina, que estávamos habituados a ouvir. Tais palavras foram:
- Eduardinho, o que significa isso?
Meu deus do céu, pensei eu. O que será de mim agora? Serei expulso. E o pobre do Jiló? Ou será Giló? Não importa. Tá fudido também.
- Eduardinho, eu lhe fiz uma pergunta, insistiu a velha, que tornava-se cada vez mais animalesca e bestial.
Sem saber o que falar, vomitei as palavras, sem ter tido tempo de pensar:
- Não é o que a senhora está pensando.
- Como não?, rebateu ela. Está muito claro para mim. Trata-se de uma heresia, uma aberração, uma afronta ao Criador Todo-Poderoso, à moral, à tradição e aos bons costumes.
Sem entender nada, perguntei com a maior ingenuidade do mundo:
- Do que a senhora está falando?
Aquilo foi recebido como uma ofensa pessoal e um, digamos, desacato à autoridade.
Sem poder questionar o que de fato estava acontecendo, fui imediatamente encaminhado a Diretoria, onde conversei também com uma inspetora, metida à psicóloga. Lá descobri que todo esse auê ocorrera porque minha querida professora ofendera-se com uma simples palavra escrita em letra minúscula.
Para mim, era uma simples palavra.
Escrever deus com caixa baixa era tão normal quanto escrever Brasil ou brasil, Eduardo ou eduardo. Mas é claro que, para não me complicar, guardei este pensamento comigo.
Acabaram me liberando e naquele dia, na volta para casa, fui pensando no quão curioso havia sido tudo aquilo.
A puta da professora ficou tão incomodada com deus minúsculo, coisa que não diminui o valor do criador, que nem se preocupou com o que Jiló, ou será Giló, deveria guardar nas calças.
Aquilo sim era uma heresia.

* Texto escrito em 21/11/04.

Sem título*

De repente, sua vida acaba.
De repente, você é um nada.
De repente, num segundo.
De repente, você não está mais nesse mundo.
Os olhos se cerram, as cortinas se fecham.
(O espetáculo acabou)
Um último suspiro, um grito, um silêncio.
Uma vida toda se vai, nada mais se pode fazer.
Um incidente, um acidente, um destino.
Você simplesmente não está mais lá.
Está fora, vendo tudo à distância, na passiva e cômoda condição de telespectador.
A testemunha do seu próprio fim.
O álibi perfeito de algo que jamais poderá ser desfeito.
Sendo assim, você só pode sorrir.
Um sorriso cínico, meio bobo, sem graça.
Um último sorriso. É o fim.

* escrito na Serra do Mar, a caminho de Caraguá, em 20/05/05.

Não deu no New York Times, mas deu no Jornal de Caçapava


Caçapavense recebe prêmio de Criação Publicitária*

No último dia 28, foi realizada em Ribeirão Preto a cerimônia de entrega do V Prêmio Recall de Criação Publicitária, um reconhecimento ao talento de profissionais e agências de propaganda do interior paulista.

Dentre os premiados, está o publicitário caçapavense Eduardo Spinelli, que recebeu o troféu de bronze na categoria Spots e jingles, representando assim a única agência do Vale do Paraíba a ser premiada na edição deste ano.

Redator da Página Comunicação, agência de São José dos Campos, há mais de 4 anos, o profissional foi responsável por diversas campanhas de clientes como Oscar Calçados, Prefeitura de São José dos Campos, Rossi Residencial, dentre outros.

"Este era um sonho antigo. Nunca criei campanhas pensando em prêmios e sim no resultado para nossos clientes. Mas é óbvio que prêmios como este sempre são bem-vindos", revela o publicitário.

* Matéria publicada no Jornal de Caçapava, ano 22, nº 751, de 18 a 24 de Novembro de 2005.

No orkut dos outros é refresco

Todo mundo fuça no orkut. Quem não fuça, ou tá invisível ou tá mentindo.

Rage Against The Machine

Eu queria que todas as pessoas que me mandam arquivos pps e ppt fossem pra pqp.

Na boca do povo

O que você pensa a respeito de uma pessoa é como o sexo oral: ou você cospe ou engole.

Aqui, filosofia. Aliterações.

É melhor perder a cabeça de vez em quando do que perder o cabaço uma vez na vida.

90´s

Definitivamente, as melhores coisas dos anos 90 foram os Chemical Brothers, o FatBoy Slim e a minha operação de fimose.

O sentido da vida

Alguns mistérios ainda me intrigam. De onde viemos? Deus realmente existe? Existe vida após a morte? Por que o Pato Donald sempre sai do banho de toalha se ele não usa calças?

Cansei de ser clubber

Parei de freqüentar raves depois que as pessoas começaram a consumir drogas. Psy trance, por exemplo.
(Eduardo, no livro fictício "Ai que saudade do drum´n´bass")

Não diga alô, diga alô, cretina.

Numa sociedade em que celular é sinônimo de status, sinto falta da época em que a ausência dele era sinônimo de liberdade.

Chamem os caça-fantasmas!

A propaganda é a alma do negócio. Isso explica o alto índice de peças fantasmas nos festivais internacionais de publicidade.

Sujeira étnica debaixo do tapete

Japoneses são mais inteligentes. Negros são mais fortes. Por que será, então, que nós, brancos nojentos, somos os donos da História?

El Niño é o c******!!!

O Brasil não tem terremoto, não tem furacão, não tem vulcão. Mas já reparou que a cada escândalo político, nós, brasileiros, ficamos cada vez mais abalados?

Política profiláctica

Política é como masturbação: ora o poder está na mão da esquerda, ora na da direita.

Post que pariu (que trocadilho de m****!!!)

Uma imagem vale mais que mil palavras. Mas nada se compara a um bom palavrão.

Credo!

Eu acredito em duendes. Eu acredito em OVNIs. Eu acredito até em saci e mula sem cabeça. Só não acredito que a Roberta Close um dia já foi homem.

Uma rapidinha (rápida, mas gozada)

Ela tinha tanto medo de engravidar que vivia pedindo ao marido para gozar fora. Até que um dia ele resolveu obedecê-la e gozou fora. Fora de casa. E engravidou a vizinha.

Thursday, December 14, 2006

Sinopse de roteiro

Agência: Página Comunicação
Cliente: VIACABOTV
Produto: Institucional
Título: Bola

Um menino está num campinho jogando bola. Ele vai fazendo diversas embaixadinhas, demonstrando o talento no futebol. De repente, ele dá um chute bem forte, a bola voa longe e quebra uma vidraça. Corta para a bola rolando no meio de uma sala de TV. A família, reunida, olha assustada para o televisor. Estão todos de boca aberta. No chão, se vê apenas os estilhaços da tela da TV. A bola continua girando no chão e transforma-se na logomarca da VIACABOTV.

LETTERING 1: VIACABOTV. Viver Você.

LETTERING 2: www.viacabo.com.br

Um caipira na cidade grande

Dia de entrevista. Ansiedade. Tensão. Chuva em São Paulo. Era a primeira vez que eu, um caipira do interior, iria tentar a sorte na cidade grande. Caipira mesmo, daqueles que falam porrrta, porrrteira e porrrtifólio. Me senti um Crocodilo Dundee naquela selva de pedra. Na terra da garoa. Em Sampa todo mundo tem pressa, ninguém olha você nos olhos, time is money. Na rodoviária, diversos nordestinos carregando caixas de televisores na cabeça. Chata. Não, não, chata não era a cabeça do nordestino, era a espera na fila da bilheteria do metrô. Metrô lotado. A porta automática quase me divide em dois. Cheiro de suor no ar. Pessoas se encostam e se esfregam de forma sedutora, como num baile funk animado ou num documentário sobre rituais de acasalamento no Discovery Channel. Chego à Paulista. Compro um guarda-chuva (meu machismo me impede de falar sombrinha) de cinco reais no camelô. Estou próximo à agência. Toco o interfone. Sou recepcionado por uma secretária deliciosa. Mal-humorada, mas deliciosa. Reparo que ela olha para o meu guarda-chuva, olho para o céu, através da janela, e vejo um sol do inferno. “Tempo louco, né?”, eu digo meio sem jeito. Ela responde com um risinho mais sem jeito ainda. Começo a ficar impaciente, incomodado com a situação, com a recepcionista e com o guarda-chuva. Aproveito um segundo de distração da moça e coloco rapidamente o guarda-chuva, de mais ou menos um palmo, dentro da calça, deixando aquele volume tomar conta do tecido e, com isso, pender para a esquerda. Se antes me sentia ridículo, agora me sinto um ator de filme pornô, o homem-berinjela. “A Dona Suzy já vai atendê-lo. Pode me acompanhar até a sala de reunião”, diz a secretária, interrompendo bruscamente meus pensamentos. Ela sai da sala, sento à mesa e aguardo a dona da agência chegar. Quando a tal da Dona Suzy entra na sala, levanto-me e, antes de estender minha mão para cumprimentá-la cordialmente, ajeito o volume na calça, que ameaçava cair, revelando toda a farsa. Dona Suzy tira os óculos, olha fixamente para o volume e me diz: “É um prazer conhecê-lo. Muito prazer mesmo”. Naquele dia, fui embora feliz da agência, com um emprego, um salário mais do que justo e uma fama que eu não sabia que tinha. Afinal, acabei sendo contratado não pelo meu talento, e sim pelo meu talento. Se é que vocês me entendem.

Monday, December 11, 2006

Pra deixar qualquer um com os cabelos em pé.


Esta foi uma das poucas peças gráficas que fizemos para este cliente e, confesso, foi uma peça que deixou todos da agência muito satisfeitos. O brainstorming incluiu dois redatores e um diretor de arte, este último também metido a redator. O resultado final é este que vocês podem ver: uma bela peça gráfica, bem clean e que foge daquele formato-padrão de cartaz, sempre vertical. Esta não é a versão final, é a versão fantasma, que nós da agência gostamos mais. Aliás, a primeira versão era melhor ainda, pois nos fios de cabelo dava para ver diversas assinaturas - ou melhor, garranchos -, numa clara alusão à importância da receita médica na hora de comprar medicamentos. Um case que representa bem o dia-a-dia da agência: todos os profissionais envolvidos davam sua contribuição, sem estrelismos e egos afetados. Eram todos, de certa forma, pais das idéias. A peça, quando nascia, sentia-se um filho de prostituta: sabia que todos ali haviam dado a sua “contribuição”, mas não sabia ao certo a quem chamar de papai. Afinal, não importa quem vai aparecer na ficha técnica. O importante é a peça ser boa o suficiente a ponto de merecer uma ficha técnica.

Webwriter - Redator em tempos de internet*

Para ser um bom redator hoje não basta saber escrever bem. É preciso saber escrever bem em todas as mídias. Por isso, o redator precisa estar o tempo todo ligado nas últimas tendências. Com a popularização da internet e as mudanças tecnológicas, que ocorrem cada dia de forma mais rápida, o profissional precisa estar constantemente se atualizando. Hoje se fala em Marketing Viral, com a divulgação de filmes virais na internet, que você recebe, gosta e envia para o seu amigo que envia para o amigo dele e assim vai. Esta demanda criou um novo paradigma para a comunicação publicitária. O internauta deixa de ser passivo, passa a interagir, deixa de ser apenas receptor da mensagem para também ser ele próprio um emissor. Muitas empresas, hoje, incluem em suas estratégias de campanha ações de Mobile Marketing, que nada mais são do que mensagens bem direcionadas enviadas pelo celular.
Por falar em quebra de paradigmas, um dia caiu um job na minha mesa. Era para fazer um podcast para um cliente nosso, a VIACABO, uma operadora de TV a cabo e internet banda larga. “Podcast? Que catzo é isso?”, eu pensei. Eu já tinha ouvido falar que a Kaiser estava sendo uma das pioneiras a utilizar este tipo de linguagem para internet. Bom, daí eu tive que pesquisar, né?
Descobri que “podcast é um conteúdo de áudio que pode ser baixado via Internet e ouvido em MP3 Players, como o iPod , ou em computadores, com softwares específicos”.
Em seguida, comecei a ouvir vários podcasts na internet, um mais legal que o outro. Bom, daí eu já me senti mais preparado. Comecei a escrever, locutei, cronometrei, imaginando que um internauta - provavelmente jovem - estaria ouvindo enquanto estivesse fazendo outras coisas como baixar músicas, conversar no msn, olhar os scraps do orkut e navegar em outros sites. Para minha surpresa, o cliente - o canal pago TNT - adorou e elogiou muito o nosso trabalho. Mal sabia ele que era o nosso primeiro filho. É, o primeiro podcast a gente jamais esquece.

* trecho extraído da palestra "O contexto criativo na publicidade", ministrada por mim, em outubro de 2006, na Fatea - Faculdades Integradas Teresa D´Ávila.

Gostou? Então entre em contato comigo pelo e-mail: eduardospinelli@vivax.com.br
Terei o maior prazer em ministrar uma palestra na sua escola ou faculdade.

O redator deve apenas redigir?


Óbvio que não. E esta peça é prova viva disso. Pode ver. Não tem nenhum título criativo, nenhum texto elaborado, apenas as informações objetivas contidas no briefing. E a grande sacada publicitária está na imagem: um púlpito em forma de caixa de remédio. O cara que vê o cartaz colado em qualquer lugar bate o olho e já sabe que se trata de um evento em que serão discutidos temas referentes à farmacologia. O que mais me orgulha nesta peça é que fui eu - veja bem, o redator, aquele cara que todo mundo acha que só escreve - que desenhou um rafe e mostrou ao diretor de arte. Este, por sua vez, deu uma solução gráfica impecável e melhorou muito aquele rascunho inacabado. Moral da história: dupla de criação de verdade é assim mesmo: o redator redige, o diretor de arte faz arte. E vice-versa.

Propaganda boca-a-boca não é sexualmente transmissível


Esta é uma das peças que mais gosto. Pela simplicidade - a metáfora é tão óbvia, como ninguém pensou nisso antes? -, pela força da imagem e pela ousadia. Acho que utilizar o eufemismo do prego enferrujado pode ser tão eficaz quanto a imagem de um pênis cheio de verrugas, bolhas, enfim, aquela clássica imagem que causa repulsa nas pessoas. Na verdade, estas imagens até foram utilizadas, mas dentro do folder, que teve esta foto como capa. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Neste caso, a imagem vale muito, mas o texto a complementa, encaixando-se nela tão perfeitamente quanto um parafuso numa porca. A imagem acima é tão forte que deveria ter sido espalhada por toda a cidade, em placas de outdoors que causassem impacto nos motoristas e transeuntes. Outra alternativa em que eu apostaria seria a de mídia indoor, mais especificamente a de banheiro. Nada mais oportuno do que aproveitar o momento em que o público-alvo está com a mão “naquilo”, e que, por isso, está mais suscetível a receber este tipo de mensagem, para dizer que se ele não se cuidar, “aquilo” vai acabar como um prego enferrujado: sem serventia pra nada.

Saturday, December 09, 2006

Um texto sobre... sobre... sobre o que mesmo?

Alguém aí se lembra o nome daquele treco, que serve pra colocar naquele troço, para que a coisa possa funcionar? Bem, era sobre isso que eu ia escrever, mas como me esqueci do assunto, vou falar sobre isso: amnésia. Este é um problema sério na minha vida. Esqueço tudo: data de aniversário, aniversário de namoro, número de telefone, senha de banco e nomes de atores de cinema. O nome depois até aparece na minha mente, mas isso pode demorar horas, dias, semanas ininterruptas. Um dia desses, esqueci onde havia guardado as chaves. Noutro, esqueci onde estavam os meus óculos. Para minha surpresa, estavam na minha própria cabeça. Onde eu estava com a cabeça? Só não a perco porque ela está grudada no resto do corpo. Dizem que o problema da falta de memória é a falta de concentração. Será? Pode ser. Tenho um sério problema de concentração, eu diria até mesmo um distúrbio de atenção. Sempre tive dificuldade em prestar atenção durante muito tempo em uma coisa só. Aulas, filmes longos, palestras, telejornais. Foi assim no colégio, foi assim na faculdade e é assim na vida. Às vezes sei que preciso lembrar de algo, mas muitas vezes o algo vai desaparecendo, como palavras escritas na areia da praia, que somem quando a água do mar vem e as leva. Meus amigos vivem dizendo para eu parar de fumar maconha, mas dizem isso só para me sacanear, pois sabem que sou totalmente careta. O problema parece degenerativo. Será que vai piorar com a idade? Se estou assim com trinta anos como estarei quando tiver sessenta, setenta, oitenta? Já experimentei até uma tal de huperzina A, um composto isolado de uma erva chinesa medicinal utilizado em pacientes com Mal de Alzheimer, e nada. Continuo esquecendo as coisas, lacunas cada vez maiores se formam na minha memória, histórias ficam incompletas e lapsos são cada vez mais constantes, fazendo com que minha vida entre num constante colapso. Esqueço, simplesmente esqueço as coisas. Esqueço o que acabei de pensar, o que vou falar e o que vou fazer. Aliás, sobre o que eu estava escrevendo mesmo? Alguém aí se lembra?

Friday, December 08, 2006

O dia em que fechei os olhos e dei as costas ao mundo

O dia hoje me parece tão sério
e eu não estou nem um pouco afim
de fazer nenhum esforço
pra trazer você de volta pra mim
Não quero flores
Tampouco dores
Nem quero ter que falar sozinho
Não quero não ser eu mesmo
Só sei que quero uma chance
de tentar tudo de novo
tudo que estiver ao meu alcance
mesmo que não seja com você.

Hoje o dia tá cinza
As pessoas tão frias
lá embaixo o baque surdo
da bala perdida que almeja
mais uma alma que se perde
enquanto o galo canta, com tristeza.
Não, não quero mais
a vida urbana é uma ratoeira
Pra mim tanto faz
Só tô mesmo de bobeira
Mas o mendigo todo sujo
enrolado no jornal
sem saber ler
o próprio cobertor
Não, ele não merece essa vida
Ninguém merece.

Mas a esperança é a última que morre
e se não morre, enfraquece
e o ser humano insensível
da sua origem se esquece
Individualista como sempre
Materialista como sempre
Racista, elitista, machista
sexista e, por favor,
não insista
não quero comprar limão,
não quero abrir os olhos,
não quero estender a mão
eu quero que você não exista
que seja um pesadelo e suma
num piscar de olhos
vá para o olho da rua
pois Deus sabe o que faz
eu cuido da minha vida
você cuida da tua
pra mim tanto faz
o que eu quero é paz.

Mas que paz é essa
que me corrói por dentro
um sentimento de culpa
que me leva ao relento
e mesmo que não seja do meu contento
peço desculpas
bato na parede a testa
abro feridas que não se fecham
que o tempo não cura
culpa dessa vida, tão dura
meu sangue se esvai
como um rio sem destino
o universo em desatino
a estrela cadente que cai
meu desejo é utopia
minha sina é como um beijo
que gruda, que ama e que fere
mas que sai ferido
um golpe ele desfere
na raiz da origem do começo
de um povo tão sofrido.

A vingança da sopa de jiló


Não era questão de não gostar. Era ódio mortal mesmo. Não era frescura, era aversão. Junior não suportava aquela gororoba verde e nojenta. E a megera da sua vó ignorava totalmente a ojeriza do neto. Obrigava a pobre criança a, todos os dias impreterivelmente, engolir aquela sopa indigesta. Depois não sabe por que tantas crianças saudáveis e felizes crescem e se transformam em adultos tristes e problemáticos. Sim, porque a sopa de jiló é um trauma de infância de muito marmanjo por aí. É responsável por crises existenciais, broxadas homéricas, brigas no trânsito e, até mesmo, guerras mundiais. Tenho certeza que a mãe do Bush o obrigava a tomar sopa de jiló. Bom, deixemos os devaneios de lado e voltemos à sopa. A verdade é que a revolta de Junior era tanta que, um belo dia, ele resolveu se vingar. Não tinha nada contra sua vó, especificamente, mas teria que dar a ela uma lição, que servisse de exemplo a todas as vós do mundo, que torturam seus netos diariamente. O mesmo que acontecera a Tiradentes, levado à forca por seus atos. E olha que ele nem havia obrigado alguém a tomar sopa de jiló. Acontece que o que Junior faria era muito mais que uma vingança pessoal. Era uma revolução contra o sistema, pensava ele, uma afronta a esta tradição idiota de que criança precisa tomar sopa de jiló. Eis o plano de Junior: quando sua vó se distraísse por alguns segundos, ele “batizaria” a sopa com um composto químico que preparara. Junior era um pequeno cientista, inspirado nesses malucos que a gente vê nos filmes B e que sempre têm um ajudante corcunda chamado Igor, que fica balbuciando palavras indecifráveis. Igor, quer dizer, Junior havia ganhado no Dia das Crianças do ano passado um pequeno laboratório, destes vendidos em lojas de brinquedos e que trazem dentro da caixa todo tipo de tubos de ensaio, microscópios e soluções químicas das mais variadas cores e odores. Junior adorava as aulas de Ciências do colégio. De repente, sua vó abre a geladeira para pegar a dentadura. Dá pra acreditar que a velha escrota guardava a dentadura dentro de um copo d´água dentro da geladeira? Pra ficar mais fresquinha, dizia a ditadora, com seu cabelo branco e seus óculos fundo de garrafa. O corpo robusto da coroa cobria praticamente toda a visão da parte interna da geladeira, mas por uma pequena fresta, Junior conseguiu ver um pote de danoninho. Desejoso, ele passa a língua nos lábios e pensa: logo, você vai ser todinho meu, meu amiguinho. E dá continuidade ao seu plano maquiavélico e diabólico. Enquanto sua vó encaixa aquela prótese malfeita, deixando um fio de baba escorrer pelo canto da boca, ele rapidamente despeja no prato de sopa todo o conteúdo de um frasco todo preto, com uma caveira branca e dois ossos humanos cruzados, pintados na superfície do recipiente. Subitamente, o líquido dentro do prato começa a fervilhar, bolhas vão surgindo e a sopa vai crescendo sem parar. “Vovó, tem uma mosca na minha sopa”, grita desesperadamente, ao mesmo tempo em que abre um sorriso cínico. A vó vem em sua direção, resmungando sei lá o quê, e quando ela ajeita os óculos no nariz gordo e inclina um pouco o corpo obeso sobre a mesa para ver de perto, acontece o inacreditável, o insólito, o inimaginável. A sopa, devido às reações químicas, tomara uma forma grotesca, meio monstro, meio jiló. Não era possível distinguir com precisão suas formas, o que era braço, o que eram olhos, mas a sua boca enfurecida com dentes afiados estava ali, bem nítida. A criatura pula do prato e, em questão de segundos, engole a velha, como uma jibóia engole um boi. No caso, uma vaca. O monstro-sopa volta para o prato. Um arroto estrondoso ressoa por toda a vizinhança, cuspindo para o alto a única lembrança da megera: sua dentadura. Junior, indiferente àquela cena surreal, caminha até a geladeira, abre a porta e, calmamente, pega seu objeto de desejo. Ele tira a tampa metálica do danoninho, dá uma lambida, faz cara de nojo, como se estivesse enjoado, cospe no chão e diz para si mesmo:
- Pensando bem, a sopa de jiló não era tão ruim assim.

*Eduardo Spinelli é redator, roteirista, fã de filmes trash e nunca tomou sopa de jiló na vida.

Thursday, December 07, 2006

Válvula de escape

Descobri na poesia minha fuga
Descobri na rima minha trincheira
Percebi que de nada valem as rugas
Que colecionei a vida inteira

Encontrei a mim mesmo
Nas linhas tortas de um diário
Deixei de ficar a esmo
Deixei de me sentir um otário

Elevei minha auto-estima
Comecei a acreditar em mim
Escrevo sem verso nem rima
Para no desgosto dar um fim

Sinto o frio penetrar como metal
Rasgando e quebrando minha alma
Pergunto-me se tudo isso é real
E conto até dez com muita calma

Inspiro, engulo o choro
Mas retroceder nunca, render-se jamais
as vozes na minha cabeça gritam em coro
a dor é intensa, o sofrimento demais

Rogo que uma praga caia sobre mim
Como um raio, lampejo ou trovão
Desfalecendo-me tim-tim por tim-tim
Mas o último suspiro não sai do pulmão.

Esta festa abalou geral

Dias melhores virão

Dias melhores virão
É no que tenho que acreditar
pra mudar este mundo cão
não posso mais esperar

Que os fortes me sigam
que o bravos ergam a cabeça
não importa o que outros digam
quero que você esqueça

A minha reforma é agora
uma forma revolucionária
mudança de dentro pra fora
anti-ideologia otária

Sem armas na mão
toco em frente a revolução
de frente com o inimigo
cara a cara com o sistema
sem correr nenhum perigo
isso pra mim não é problema

A minha guerra não é biológica
química, bélica ou violenta
É a guerra do pensamento
aquela que não se inventa
É a guerra inevitável
batalha nossa de cada dia
passageira como o vento
forte como o deus que não se via
de espírito inviolável

Mas minha guerra tem motivo
justificativa e porquê
Porque de nada vale ser livre
se entender eu não consigo
o porquê de eu sentir falta
do amor que nunca tive

Não o amor dos namorados
nem o amor cego à pátria
falo do amor verdadeiro
o amor que sofre calado
o amor não de um, mas de várias
o amor que vive solteiro.

Poesia de rua

Os meus versos
não são métricos
tampouco literários
são versos que velam
o menor morto na porta da igreja
são palavras que embalam o sono
dos excluídos, dos esquecidos
dos sem-terra, dos sem-teto,
dos sem-vergonha, dos sem-graça
dos sem futuro
São consolos praquele mendigo
que dorme no banco da praça
São súplicas, lamentos
são choros abafados
de uma alma que clama
por um pingo de atenção
São pensamentos que preenchem
o vazio do saco que não pára em pé
são lágrimas do Zé,
do Febém, do Bala Perdida e
do Zé-Ninguém
são um tapa na cara da indiferença
um arregalar de olhos dos abastados
que nada vêem
um espinho que incomoda a classe média
um escarro na vida pequeno burguesa
que sonha com a realeza
enquanto outros não podem dormir
sendo que quem deveria perder o sono
eram eles próprios
de culpa
culpa que não se desculpa
culpa que não se perdoa.

Pátria rimada, Brasil

O Brasil é o país do futuro
do futuro do pretérito
do brasileiro que vive duro
daquele que vive sem-teto.

O meu povo não é
o meu povo seria
gostaria de ser
vivendo à sombra do tio Sam
porque existem mais coisas
entre o primeiro e o terceiro mundo
do que supõem nossa filosofia vã.

Tenho orgulho do meu país
das minhas raízes
Tenho pena do meu povo
de sua baixa auto-estima
tenho pena de mim mesmo
E essa auto-piedade
É o que faz a minha rima.

Poesia curta. E grossa. (talvez, por isso, você não curta)

A felicidade existe
Mas você ainda insiste
Em ser esta pessoa triste.

Publicidade de Cordel II

O mito do pajé caçador de maus espíritos

Essa é uma história
Que se passou lá na aldeia
É o mito de uma tribo
Uma história que aperreia
Que começa muito bem
E acaba em cadeia.

Acontece que certo dia
No povoado ele chegou
Era um índio muito gordo
Que a todos declamou:
- Vim de longe até aqui
Pois minha oca se acabou.

E aquele povo acolhedor
Não hesitou em receber
Aquele pobre homem
Que fiel amigo dizia ser
Mas que a índole não deixava
Aquela máscara esconder.

Para agrura dessa tribo
O homem que ela acolhia
Não passava de um farsante
Só fumava, só bebia
E no seio daquele povo
Infestou a epidemia.

Se antes índio era bom
Agora morto era
E aquela tribo tão pacífica
De bela virou fera
É que por causa do pele-vermelha
A morte estava à espera.

O danado do índio
Acabou com a alegria
Vendo tanto índio moribundo
O mau espírito só sorria
É que o ardil daquela peste
A todo mundo contagia.

Sem saber o que fazer
O cacique olhou pro céu
E entregou ao deus “truvão”
Uma oferenda sob o véu
- Ó, Tupã, aqui está
Minha filha caçula, Lábios de Mel

Coincidência ou não
Um curandeiro apareceu
E como uma flecha certeira
Atrás do tirano ele correu
Com seu toque milagreiro
Ninguém mais adoeceu.

Só que o tal do mau espírito
De índio virou onça-pintada
Foi pra cima do pajé
Que caiu numa sentada
E do céu um trovão
Fez da onça aprisionada.

Depois de expulsar o mau espírito
Nosso herói foi aclamado
Bem-feitor daquela aldeia
E do céu um enviado
Mas o final dessa história
É melhor que o esperado.

O caso é que o pajé
Virou rei do medicamento
E o cacique agradecido
Cumpriu com seu intento
E a mão de sua filha
Deu origem ao casamento.

Depois do ritual
Silenciaram-se os tambores
Graças ao mágico elixir
Tinham-se ido todas as dores
E o que reinava na aldeia
Era a união dos dois amores.

Além de curar todos os males
E os problemas do coração
O pajé, amigo nosso,
Com a ajuda do sogrão
Montou uma pharmácia
Com remédio de montão.

O resto da história
nem é preciso que eu fale
Toda vez que a dor aflige
Pra fazer com que ela pare
O alívio imediato está ali mesmo
No balcão da Farmavale.

Publicidade de Cordel I

A lenda do jacaré e da estrela cadente

Nossa história vem do norte
Conto sem cabeça e nem pé
De um caboclo sonhador
Que por um igarapé
Veio atrás de uma estrela
Trazido por um jacaré.

Nascido na borda do mato
Criado sem instrução
Nosso caboclo Zezé
Tinha na vida a solidão
Mas vivia sonhando
Com a sua realização.

Desde a infância sofrida
Já bastante trabalhava
Morando à beira dum rio
Com tarrafa ele pescava
Mas o gosto do pintado
De nada lhe agradava.

O lugar não tinha nada
Nenhuma motivação
Vivia sozinho
Nem tinha bicho de estimação
Mas queria uma aventura
Um pouco de emoção.

Dos bichos que lá havia
De poucos gostava Zezé
A num sê do bicho verde
Com rabo e quatro pé
Bicho bravo o danado
Que é o tal do Jacaré.

Nosso herói também era bravo
Só que bravo na vontade
Olhando pro Jacaré
Só via a liberdade
Num vai-e-vem pela vida
Fazendo a amizade.

Acontece que certo dia
Mesmo forte como um touro
O pobre do jacaré
Quase que perdeu o couro
É que a pele do bicho verde
Na cidade vale ouro.

Sob a mira da espingarda
Que o caçador tinha na mão
Temia o jacaré
Agora sem solução
- Valei-me meu São Francisco
Que te peço proteção!

Do céu então caiu uma tarrafa
Deixando o vilão emaranhado
As preces foram ouvidas
E o jacaré foi ajudado
Nascia por Zezé uma gratidão
Que o acaso havia selado.

E foi essa gratidão
Que ajudou nosso Zezé
Ao olhar uma estrela cadente
Nosso herói pediu com fé
- Por favor, Nossa Senhora
Me leve por esse igarapé

O jacaré de casca grossa
Comovido com a oração
Olhou para o seu herói
E amoleceu o coração
- Suba aqui em meu lombo,
Convidou o grandalhão.

E foi atrás daquela estrela
Que alumiava o caminho
Que nossos dois aventureiros
Seguiram seu destino
Pra chegar ao paraíso
Que Zezé sonhava ainda “minino”.

Depois de dez dias e dez noites
A estrela enfim ancorou
No rosto de Zezé
Uma lágrima desabou
E um céu todo estrelado
Na sua frente iluminou.

E ao olhar para a terra
Que aquele céu fez surgir
Zezé exclamou
- Daqui não quero sair!
Essa que é a terra da alegria
Chamada Jacareí.

Obs.: A tal estrela é uma alusão à gestão petista da Prefeitura Municipal de Jacareí.

Monday, December 04, 2006

O pessimismo de Murphy contra a vontade de Deus

Murphy já dizia: “Se alguma coisa pode dar errado, ela vai dar errado”. Tudo bem, não foi exatamente esta a lei que o engenheiro aeroespacial americano formulou, mas foi assim que acabou tornando-se popular. Eu não acreditava muito nisso até aquela fatídica segunda-feira. Comecei “bem” o dia, acordando atrasado para o trabalho. Aquele dia já amanhecera cinzento, nublado, deprimente, destes que não dá a mínima vontade de sair da cama, muito menos de ir para o trabalho. Mal havia colocado os pés na calçada, em frente ao portão do meu prédio, e dei de cara - ou melhor dizendo, de sola - com o cocô de algum cachorrinho de madame, destas que não carregam a pá e nem a sacolinha para recolher a sujeira de seus filhotes. Que m..., pensei, enquanto ia esfregando o sapato novinho na guia. Pior que o cheiro continuava impregnado em mim. Bom, contei até dez para que isso não estragasse o meu humor. Segui a passos apressados até o ponto de ônibus, que estava lotado. E o ônibus, pra variar, atrasado. Olhava o relógio compulsivamente, como se isso fosse mudar alguma coisa. De repente, o carro de algum playboyzinho, que não tem o que fazer, passa por uma poça e joga lama por todo o lado, dando um banho em mim e nas outras pessoas que estavam ao meu lado. Minha camisa novinha, droga! O pior é que não dava tempo para voltar e trocar de roupa. Eu tinha uma reunião logo cedo e já estava mais que atrasado. Vou me limpar no escritório, pensei com meus botões, todos encharcados com aquela água suja e fétida. Finalmente, chega o ônibus, passo pela roleta e tenho que ficar de pé, com um bando de gente com o desodorante vencido se esfregando em mim. Um pastor prega as palavras do Senhor, enquanto noutro canto uma criança no colo da mãe chora sem parar. Que inferno, penso eu. Depois de quase uma hora de congestionamento, desço no ponto e caminho alguns minutos até chegar ao meu trabalho. Chego lá e antes que eu possa me limpar, meu chefe me chama até a sala dele e me diz com toda frieza e calma do mundo que a empresa estava fazendo alguns cortes e que, por isso, a partir daquele dia eu não trabalharia mais lá. Fico p... da vida com a situação e, mais ainda, com a forma como isso me foi comunicado, saio transtornado e ligo para a única pessoa que poderia me ajudar naquele momento tão difícil. Ela atende o telefone, lamenta por tudo e diz que precisa de um tempo, que a relação não vai muito bem, que o problema não sou eu, é ela. Dá pra acreditar? Chego em frente ao meu prédio, me dou conta que perdi minhas chaves. O estrondo de um trovão percorre todo o céu e, em menos de um minuto, uma chuva despenca sobre a minha cabeça. Fico ali, parado, por alguns instantes, imaginando que aquilo tudo só podia ser um castigo de Deus. Começo a chorar de raiva, e as lágrimas misturam-se às gotas da chuva. De repente, do nada, a chuva pára. O sol surge no céu, iluminando, aos poucos, carros, árvores e pessoas, num belíssimo espetáculo. Sento na calçada e fico observando por algum tempo aquele milagre. Sim, um milagre. Nisso, surge um menino bem na minha frente, como se tivesse sido colocado ali por intervenção divina. Uma criança franzina e careca, provavelmente devido a algum tipo de câncer, mas uma criança linda, com o sorriso mais lindo que já vi na vida. Ela me olha, como se me conhecesse, passa a mão na minha cabeça e, com este gesto de carinho, eu sinto a maior paz do mundo tomar conta de mim. Ela me diz para ter calma e paciência, que depois da tormenta viria a calmaria e que dias melhores virão. Ao proferir a última palavra, chega mais perto e me dá um beijo na testa. Fecho os olhos e, em questão de segundos, aquela criança não está mais lá, desaparece da mesma forma que havia chegado. Depois daquele dia, cheguei à conclusão que todos nós temos livre-arbítrio para escolher como vamos encarar uma notícia, uma adversidade, um dia ruim. E quando fraquejamos, ficamos cegos ou perdidos no meio do caminho, Deus nos envia um anjo. Um anjo, que com apenas uma palavra ou um ato, é capaz de mostrar a nós que a vida vale a pena. É neste momento que a nossa atitude frente a um problema muda, pois nós passamos a acreditar que se alguma coisa pode dar certo, ela vai dar certo. E realmente, pensando assim, ela dará.

Sunday, December 03, 2006

Metamorfose

Chorei. Fui fraco. Sofri. Me fizeram de bobo. Acreditei. Me iludi. Fui humilhado. Chorei de novo. Mas agora chega. É hora de dar um basta. Cansei de ser bonzinho. Cansei de ser sempre o otário da história. Preparem-se: vocês vão ter uma grande surpresa. A metamorfose começou. A casca do casulo já foi rompida. Finalmente estou pronto para alçar novos vôos. Vou voar para bem longe daqui. Para bem longe de vocês. Porque se dependesse de vocês eu continuaria a ser o que sempre fui: um verme.

Saturday, December 02, 2006

Com a cabeça nas nuvens



Dizem que criativo vive com a cabeça nas nuvens. Daí vem o atendimento, o planejamento, o mídia, ou o próprio cliente, e zás, corta as asinhas do “viajandão”, trazendo-o de volta à dura realidade, ao planeta Terra para resolver, com os pés no chão, aquele job em cima da mesa. Estas peças foram criadas em 2001, logo quando entrei na agência. Imagine só: precisava mostrar trabalho e fazer algo diferente do que normalmente vemos em campanhas de datas comemorativas. Naquela época, eu ia e voltava do trabalho, todos os dias, de ônibus. E quando eu menos esperava, quando achava que teria que optar pelo lugar-comum, eis que olho através da janela do busão e começo a viajar nas nuvens, literalmente. Lembrei de quando era criança e enxergava toda a sorte de animais, objetos e personagens no formato das nuvens. Comecei a montar um quebra-cabeças na minha cabeça até que cheguei na concepção visual da campanha. O conceito viria a seguir, na agência, na fase de lapidar aquele diamante bruto. Gosto muito destas peças e me orgulhei mais ainda quando, ao folhear as páginas da (extinta) Revista de Criação, deparei-me com uma campanha idêntica para alguma marca de vodca famosa (tão famosa que não consigo me lembrar o nome), mas que fora vencedora no Festival de Cannes. Mera coincidência? Talvez. De qualquer forma, o case “Nuvens” foi um aprendizado pois fora uma idéia mal aproveitada. Afinal, tem cabimento uma idéia estritamente visual virar um spot de rádio e não um comercial de TV? Se tem, então realmente eu vivo com a cabeça nas nuvens.

Comerciais que gostaríamos de ver

Câmera mostra plano americano de um adolescente gordinho. Ele está bebendo uma garrafa pet 2 litros de refrigerante no gargalo, deixando um pouco do líquido escuro escorrer pelo canto da boca. Um travelling dá uma volta no jovem ator, ressaltando seu excesso de banha. A trilha instrumental lembra “Olha o passo do elefantinho...”.
Loc. Off: Agora, você vai perder alguns quilinhos enquanto mata sua sede. Nova Coca-cola Light com sabor de Mentos.
Nisso, ocorre uma reação química dentro do garoto, que o faz explodir em milhares de pedacinhos. Sangue e vísceras voam na lente da câmera. A tela fica toda vermelha.
Lettering: Curta a vida. Porque a vida é curta.
Entra logomarca da Coca-cola Light e do Mentos.