Wednesday, February 21, 2007

Mea culpa

É um pouco complicado essa coisa de ter um blog. De ter que postar textos novos todos os dias. E o pior: os textos têm que ser, no mínimo, razoáveis e bem escritos para que um amigo seu ou um total desconhecido gaste alguns minutos passando os olhos por estas palavras que você demorou horas para conseguir juntar. Afinal, a leitura tem que ser prazerosa, tem que acrescentar algo, tem que fazer o cara rir - mesmo que de si mesmo - ou fazer pensar. Muita responsabilidade, não? E cá estou eu diante de uma tela em branco, com o Word aberto, pensando em algum comentário perspicaz para tecer sobre a vida, para não decepcionar meus poucos leitores. Quanta pressão, meu Deus. Isso porque a maior pressão não é a do chefe que fica do seu lado cobrando o prazo de entrega do trabalho. É sua, vem de dentro. E se você é um virginiano perfeccionista como eu, sofre muito com isso. Mas com o tempo, a gente acaba ficando meio calejado e o padrão ISO de qualidade torna-se menos seletivo e o blog passa a aceitar quase todo tipo de coisa. Até mesmo um texto como este.

Sunday, February 18, 2007

Revelação

- Paiê!
- Quié?
- Preciso te contar uma coisa.
- Fala, filhão.
- Eu sou homossexual, pai.
(silêncio)
- Pai?
- Que susto, filho. Achei que cê ia falar que é viado.

Friday, February 16, 2007

Quando não há expectativa não há decepção.

Nos últimos tempos, esta frase aí do título tem sido a minha filosofia de vida. E não sei por que, ontem, ela me veio à cabeça, durante a projeção do filme Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA, 2006). Impossível não lembrar de Beleza Americana, outro grande filme underground que critica a sociedade americana. O legal do Miss Sunshine é que por ser meio drama, meio comédia, se você for para dar risada, vai se emocionar. Se você for para se emocionar, vai morrer de rir. Sabe, é um destes filmes que funcionam tanto para entreter quanto para fazer pensar. Afinal, é impossível sair do cinema indiferente. Uma boa sugestão é sair com amigos após a sessão e discutir sobre o filme numa mesa de bar. Acredite: o filme vai render uma boa conversa e boas discussões filosóficas (até porque Proust e Nietzsche são citados). O tema central é a obsessão do americano pelo sucesso, pela vitória, e o perigo que reside nesta paranóia. O filme é muito feliz na tipificação dos personagens: um guru de auto-ajuda que não passa de um fracassado, pois não consegue aplicar à própria vida os seus ensinamentos de motivação; um adolescente problemático que se torna tão obcecado por seu sonho de ser piloto que acaba isolando-se da família e do mundo, fazendo voto de silêncio; uma menina que almeja ser uma miss, mas que não possui nem atributos nem vocação para isso; um intelectual gay suicida; e um velho subversivo que, por conta de seu vício em heroína, acaba sendo expulso do asilo e volta a morar na casa do filho. A mãe parece ser a mais normal de todos, se é que existe alguém normal nesta família. Não é à toa que o cartaz do filme em português traz o slogan “De perto, nenhuma família é normal”. Quanto à parte técnica, o filme é primoroso. Um roteiro bem amarrado, com diálogos contundentes. Quer um exemplo? A cena em que o médico, logo após dar a notícia do falecimento do avô, grita “Linda!”, para chamar a assistente funerária. É um choque para a platéia, que não sabe se ri ou se chora. Mérito do roteiro, é claro. A direção de arte também tem bons momentos, como a composição da cena do casal sentado na cama do motel, um de costas para o outro, com o abajur ao fundo, um pouco antes de Richard (Greg Kinnear) sair pela noite dirigindo uma mobilete. A trilha é emocionante, as situações hilárias (Meu Deus, o que é aquela buzina?) e o humor negro (que envolve o corpo do avô), embora meio clichê, convence. O momento pastelão diminui o ritmo do filme e cansa um pouco, mas a interpretação da atriz mirim Abigail Breslin (no papel de Olive) e as tiradas ácidas de Alan Arkin (no papel de avô) já valem o ingresso. Vale lembrar que ambos receberam indicações ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante, respectivamente. Já a kombi amarela enferrujada (a escolha da cor tem algo a ver com Sunshine?) é uma óbvia metáfora para a instituição família. Pode ser velha, ridícula, você às vezes tem vergonha dela, mas é a sua família, e só funciona quando todos estão juntos e literalmente ajudam a empurrar.
A grande lição que tirei deste belíssimo filme é que é preciso saber a hora de abrir mão de alguns sonhos. Veja só o exemplo da menina gordinha que quer ser miss e do rapaz daltônico que quer pilotar aviões. Não estou dizendo que devemos desistir dos sonhos. Apenas que, às vezes, é bom termos um plano B, uma segunda alternativa, caso não tenhamos nascido para aquilo que tanto sonhamos. Caso contrário, pode ser frustrante. Devemos conviver com nossas limitações e, acima de tudo, buscar nossa felicidade. Às vezes, tentamos ser o que não somos, apenas para agradar uma pessoa que amamos. Outra coisa: não há somente vencedores e perdedores, da mesma forma que não existe apenas bem e mal, céu e inferno. Esta visão maniqueísta é furada. O mundo não é tão paradoxal assim. Nem tão simples. Crie expectativas, pero no mucho. Siga seus sonhos, mas não faça disso uma obsessão, porque senão o sonho acaba virando um pesadelo.

Thursday, February 15, 2007

Você não precisa passar por isso. Precisa é acabar com isso.

E se o João Hélio fosse seu filho? E se o João Hélio fosse seu irmão? Você estaria assim, de braços cruzados, sem fazer nada a respeito? É hora de cuidarmos uns dos outros e tratarmos cada ser humano como um irmão. É hora de dar um basta nesta onda de violência que assola o país e o mundo. É hora de darmos as mãos, é hora de dar a outra face, é hora de dar o exemplo. Não encare a morte do João Hélio como apenas mais uma. Encare-a como uma situação brutal que você não deseja a ninguém, que você não quer que se repita nunca mais e, principalmente, que você irá combater para que nunca, na sua vida, precise senti-la na pele. E, por favor, faça algo a respeito.

Café, cigarro, jornal e privada

Eu sou feliz. Eu sou os livros que leio. Eu sou os filmes a que assisto. Eu sou os discos que ouço. Eu sou o silêncio. Eu sou todo pensamento. Eu sou os pequenos prazeres. Sou o que não sou. Sou o que vejo, o que sinto, o que vale a pena. Sou tudo e sou todos. Sou quem eu quiser ser, sou quem você quiser que eu seja. Eu apenas sou eu.

Wednesday, February 14, 2007

Quando é que isso vai parar, meu Deus?


Na semana passada, o país todo ficou chocado com a morte do menino João Hélio, de 6 anos, vítima de um crime hediondo no Rio de Janeiro. Os ladrões levaram o carro da mãe e o menino, preso ao cinto de segurança, teve seu corpo arrastado e dilacerado durante um trajeto de sete quilômetros. Uma barbárie. Esta semana, novos crimes nos fizeram lembrar que a violência não está só no Rio, está no mundo todo. Em Salt Lake, EUA, um atirador de 18 anos disparou de forma aleatória e matou cinco clientes de um shopping center. Quase que simultaneamente, em uma empresa na Filadélfia, durante uma reunião de negócios, um homem sacou a arma e matou quatros colegas de trabalho. Após trocar tiros com a polícia, o atirador se matou. Todas estas más notícias me fizeram pensar. Lembrei de Columbine. Lembrei do cara que metralhou várias pessoas dentro do cinema. Lembrei do 11 de Setembro. Lembrei de Charles Manson. Fiquei pensando se a miséria, a exclusão social, a fome e a má distribuição de renda justificam tais atos brutais. É hora de reagirmos. Se você não aceita esta situação do jeito que está, proteste. Cada um tem uma forma de se manifestar. Uma amiga minha sugeriu uma rosa vermelha no orkut e no msn, em protesto à morte trágica de João Hélio. O Nizan criou uma série de spots de rádio que termina sempre com a seguinte pergunta: “E aí? Nós não vamos fazer nada”? Quanto a mim, também vou fazer minha parte. Já coloquei minha rosa ali em cima, mas ainda acho isso pouco. Vou rezar um Pai-Nosso e pedir muita paz e amor para todos, porque eu acho que é isso que está faltando no mundo. Mais que comida e dinheiro, está faltando humanidade. E respondendo à pergunta do título deste texto, isso só vai parar quando nós decidirmos não mais ficar parados.

Tuesday, February 13, 2007

Pior do que não ter braços e pernas é não ter coração*

Você já assistiu a um desenho chamado Os Oblongs? É sobre uma família que mora perto de um pântano poluído e que, devido ao contato com os dejetos químicos produzidos por uma fábrica, sofre com a perda de membros e mutações genéticas. Na verdade, eles não sofrem com isso. Muito pelo contrário, nutrem uma espécie de orgulho por fazerem parte deste grupo de excluídos, considerado por muitos como “freaks”, anormais, esquisitões. A galeria de personagens é bizarra: Milo, um “loser” hiperativo com deficiência de atenção; Biff e Chip são dois gêmeos siameses que se metem em situações hilárias; Beth, a caçula possui uma protuberância na cabeça, que parece crescer a cada episódio; Pickles, a mãe, é careca e alcoólatra. O mais carismático e engraçado (?) de todos é Bob Oblong, o pai da família, que não possui membros superiores nem inferiores. O desenho é exibido na Cartoon Network, dentro da programação só para maiores Adult Swin, e também no SBT, sabe-lá-em-que-horário, pois depende do humor do patrão Silvio Santos. O fato é que, um dia desses, eu estava no trem metropolitano que vai da Estação Presidente Altino até a Vila Olímpia. De repente, vi uma cena forte. Não era um desenho. Muito menos animado. Mas mesmo assim lembrei dos Oblongs. Era uma mulher pedindo esmola. Ela, assim como Bob Oblong, não tinha braços nem pernas. Mas ela, ao contrário do Bob Oblong, não tinha graça. Ela havia amarrado uma sacola com as moedas no pescoço e exibia, para todos que estavam no trem, seus pseudo-membros, que mais pareciam pequeninos tocos de árvores. Parecia jogar na nossa cara toda a vergonha e raiva que sentia do mundo. Ela se aproximou de mim. Senti pena, mas algo tomou conta de mim e me paralisou. Fui incapaz de abrir a mão pra lhe dar algum trocado. Naquele dia, pensei comigo que antes de Deus consertar pessoas como ela, é preciso consertar seres humanos como eu. Se é que posso ser chamado de humano.

* Este texto é fictício e, portanto, não representa os sentimentos e as ideologias do autor.

Friday, February 09, 2007

Pepsi ou Coke?


Como eterno estudioso de marketing, adoro experimentar novos produtos lançados no mercado. Bis sabor laranja, Draft Wine (chopp e vinho), Batata Frita Sensações sabor frango a passarinho, a lista de bizarrices é extensa. A maior parte acaba tendo um ciclo de vida do produto bem curto. Mas alguns destes produtos vingam. Não é o caso da Aquarius Lemon, da The Coca-Cola Company, com certeza. Uma bebida que simplesmente não tem gosto de nada. E se tem, é ruim. Já a sua concorrente, dentro da categoria “água gaseificada com suco de limão”, H2OH! - adorei o nome! - , da Pepsi, como o próprio nome diz, me surpreendeu: Ohhhhh... Bebida refrescante, teoricamente saudável e, convenhamos, viciante! Já comprei um estoque do produto pra passar o carnaval. Vale lembrar que sempre tento analisar estes lançamentos do ponto de vista dos 4 Ps do Kotler: Produto, Preço, Praça e Promoção. No caso da variável Produto, ambas as marcas ressaltam o diferencial da categoria: zero açúcar. Ou seja, tentam preencher um nicho de consumidores que querem matar a sede, gostam de levar uma vida saudável, mas que não abrem mão das bolhinhas provocadas pelo gás carbônico (vulgo CO2, aquele mesmo, responsável pelo aquecimento global). O Preço é o mesmo: R$ 1,39. Mas o sabor, quanta diferença! No quesito Praça, acredito que ambas estão com alguns probleminhas de logística - foi difícil encontrar os produtos em supermercados e padarias -, mas isso é normal nesta fase inicial. Até que a oferta e a demanda se equilibrem pode ainda levar um tempo. Quanto à Promoção, é só olhar na mídia e nas gôndolas de pontos-de-venda. Ambas contam com o apoio de duas gigantes em investimentos publicitários. Uma verdadeira batalha mercadológica. Em tempo: a embalagem e o rótulo da H2OH! também são infinitamente superiores. Bom, é isso. Experimente você também estes lançamentos. E tire suas próprias conclusões. Que eu vou tomar uma H2OH! bem geladinha agora, porque já deu sede e aquela vontade de ouvir "tssssssssss".

Tuesday, February 06, 2007

Efeito Estufa

A professora - a mesma do Silas, do conto anterior - pergunta para o Pedrinho se ele tem alguma idéia para diminuir a emissão de gases poluentes e, com isso, minimizar os efeitos do aquecimento global. Ao que o intrépido aluno responde:
- Coloca logo uma rolha no buraco deste tal de Ozônio!

Monday, February 05, 2007

Dia de faxina

Todo começo de ano, costumo dar uma arrumada na casa. Tiro o pó dos objetos velhos e sujos que estão espalhados pela sala. Passo um pano úmido no chão pra tirar resquícios de sangue, suor e lágrimas. Na cortina, vejo uma mancha esquisita, esta vai dar mais trabalho pra tirar. Com uma vassoura, jogo as más lembranças pra debaixo do tapete. Guardo algumas mágoas dentro da gaveta, de onde espero nunca mais ter que tirá-las. Traumas de infância passeiam pelo chão, desesperados como baratas insensatas. Pra desbaratinar um pouco, tento golpeá-las com um inseticida, derrubo algumas, mas grande parte consegue fugir. Ainda vão me dar trabalho, estas malditas. Juntando todas as minhas forças, consigo colocar todos os fantasmas do passado dentro de um armário. Amores mal resolvidos, velhas amizades, histórias incompletas, antigos desafetos. A porta ameaça abrir. Eu viro a chave e a tranco. Pronto. Estou pronto para evoluir. A faxina mental está feita. Vamos ver quanto tempo leva pra eu encher tudo isso de lixo novamente.

O silogismo sifilítico de Silas

O fim de semana passou voando. Silas passou o sábado e o domingo pesquisando sobre as conseqüências do aquecimento global. Segunda-feira de manhã. A professora o chama para escrever na lousa tudo o que aprendera durante suas pesquisas. Silas pega o giz e começa a escrever. O contato do giz faz um barulho irritante e insuportável. A classe toda começa a rir. As meninas se contorcem de tanto arrepio. A professora ameaça um sermão, mas prefere ficar quieta. Silas, aluno exemplar, começa a escrever, com sua letra que parece ter saído de um caderno de caligrafia. “Até o fim do século, o planeta pode ter esquentado entre 1,5º C e 5,8º C”. “As geleiras derreterão”. “O nível do mar subirá de 18 cm a 59 cm até 2100”. “Os furacões ficarão mais fortes”. “O mundo vai acabar”. Novamente, as meninas se contorcem, mas, desta vez, de medo. A classe, que até então bagunçava, fica agora em silêncio, apreensiva. A professora estranha a última frase na lousa e questiona Silas. Ele apenas olha para trás e faz um gesto com a mão, como se pedisse para ela esperar. E continua de onde parou. “O mundo vai acabar”. “Silas é virgem”. “Logo, alguém quer fazer séquiço com Silas”? As meninas se contorcem, mas desta vez de prazer. Toca o sino. Fim da aula. Fim do mundo. Pelo menos para Silas, que ficará suspenso por algumas semanas. É, Silas, o buraco de ozônio é mais embaixo.
Imoral da história: até quando o mundo acaba, tudo acaba em sexo.

Por que você foi embora?

Ando meio nostálgico. Tudo começou dias atrás, quando ouvi Love Will Tear Us Apart, do Joy Division. Desde então, estou assim, melancólico. Sinto vontade de chorar. Uma sensação estranha. Tenho vontade de chorar, mas não estou triste. Fico me lembrando de pessoas que já passaram pela minha vida, mas que já foram desta para melhor. Foram para uma cidade melhor, uma vida melhor, talvez para uma dimensão melhor. E eu fiquei aqui, abandonado, me afundando em lembranças, me afogando nesta areia movediça de saudade. Then love, love will tear us apart again. Desligo o rádio dentro da minha cabeça e ligo a TV para me distrair. Está passando um desenho do Papa-Léguas. Uma bigorna cai em cima da cabeça do Coiote. Beep beep! Começo a rir. Ao mesmo tempo, uma lágrima escorre do meu rosto. Meu Deus, a criança que existia dentro de mim foi embora. Para onde terá ido? Como um inquilino que abandona seu apartamento vazio sem deixar vestígios. Sem pagar o aluguel. Como o mundo seria mais simples se fôssemos todos meros desenhos animados. Sim, seríamos muito mais animados. Tudo se resolveria com produtos Acme. As guerras até continuariam existindo, mas seriam muito mais divertidas. Sinto um vazio. Sinto falta. Sinto falta dela. Jamais amarei outra pessoa. Mas ela foi embora, não adianta ficar aqui, esperando ela voltar. E eu, bem, eu continuarei nesta busca incessante e incansável pela paz. Talvez uma busca que nunca acabe. Assim como sabemos que o Coiote nunca pega o Papa-Léguas, talvez no nosso íntimo saibamos que esta busca também nunca chegará ao fim. Mas então lembramos de um sábio provérbio oriental que diz que não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho. E aí tudo fica bem. O coração se acalma, os olhos se fecham. E a música pára de tocar.