Wednesday, January 31, 2007

Anões e meias de seda


A relação de Carlos e Bárbara andava meio morna, sem graça. Até que um dia, ela decidiu tocar no assunto.
- Benhê, cê não acha que tá faltando alguma coisa no nosso casamento?
Ele ficou quieto, pensativo, olhando para o nada. Como se tivesse ponderado o suficiente para responder aquela estranha pergunta, ele olha para a esposa e diz:
- Você diz um filho? Você quer ter um filho, Bárbara? Esqueceu que eu fiz vasectomia? Quer adotar uma criança, Bárbara, é isso que você quer?
- Não, seu bobo. Não é nada disso. Acho que falta algo mais. Falta uma pimentinha neste feijão-com-arroz. Falta um pouco de sacanagem neste papai-e-mamãe, sabe?
- Hum, sei. E o que você sugere?
- Sugiro anões.
- Comé qui é, Bárbara?
- É. Anões. Vários. Todos peladinhos, espalhados pela nossa cama.
- Você perdeu completamente o juízo, Bárbara? Já ouvi muita coisa esquisita, mas nada se compara a isso.
- Ah, Carlos, deixa de ser careta, vai. Só um. Unzinho.
- Ah, não!
- Anão?
- Não, ah... pausa... não!
- Ah, sim, vai.
- Tá, suponhamos que eu aceite esta sua idéia bizarra, estúpida e pervertida. Você conhece algum anão?
- Conheço. O Tatu, que cuida dos carros lá no escritório.
- Vocês têm um anão cuidando dos carros lá?
- Sim.
- E ele se chama Tatu, como aquele da Ilha da Fantasia?
- Sim.
- Então, tá, liga pra este tal de Tatu.
- Jura, amor? Posso mesmo? Você topa?
- Fazer o quê, né? Melhor fazer parte deste ménage à trois bizarro do que ser corno.
- E você, amor, não tem nenhum fetiche, nenhuma fantasia?
- Tenho.
- Qual?
- Meias. Meias de seda.
- Meias de seda?
- É.
- Só isso? Que fetiche mais besta.
- Besta, nada. Eu respeito seus anões e você respeita minhas meias.
- Então, tá. Vou ligar pro Tatu.
- Benhê?
- Quê?
- Não esquece de pedir para o anão trazer as meias de seda.

Um dia como outro qualquer

Era mais um dia. Um dia como qualquer outro. Um dia qualquer. Acordei cedo. Como sempre. Com colheradas rápidas e mecânicas, engoli meus cereais, sem mastigar, enquanto decifrava palavras-cruzadas, nível difícil. Encaixei o dedo indicador na xícara de café, preto e quente, enquanto devorava as notícias do dia, no jornal que, todos os dias, categoricamente, batia à minha porta. Faltam poucos dias para a eleição da nova presidência da Câmara dos Deputados. Rebelo, Chinaglia ou Fruet? Tanto faz. Olho com uma certa indiferença as notícias. Desde que o mundo tornou-se menos maniqueísta, e mocinhos passaram por bandidos, e vice-versa, e esquerda virou direita, e vice-versa, tudo ficou muito chato e a política perdeu sua importância. Pelo menos para mim. Olho para o relógio. É engraçado como mesmo estando desempregado você continua a se preocupar com horários. Como se tivesse que chegar a algum lugar em tal hora. Era apenas mais um dia. Um dia qualquer. Saio para dar uma volta. Começo a reparar nas pessoas, nas casas, nos carros. Tudo está como sempre esteve. As pessoas com a mesma expressão triste, as casas com aquele ar nostálgico e os carros, bem, os carros cada vez mais poluentes. Caminho até o meu carro, estacionado na outra quadra, em frente a um prédio antigo. Um prédio que já foi cinema - onde eu costumava falsificar a identidade para ver filmes proibidos para menores de dezoito anos -, virou igreja evangélica, voltou a ser cinema, e hoje jaz naquela rua, abandonado, esquecido e perdido em algum cantinho da nossa memória. Paro em frente ao meu carro. Olho para o céu, olho para o chão, olho para mim mesmo, no reflexo do vidro do carro. Peço a Deus que algo de diferente aconteça. Que este dia deixe de ser só mais um dia. Um dia como qualquer outro. Um dia qualquer. Desiludido, abro a porta do carro e me sento, enquanto ligo o rádio e vou girando o dial. Presto atenção na letra de uma música antiga do Lou Reed: “Oh it´s such a perfect day/ I´m glad I spent it with you/ Oh such a perfect day,/ You just keep me hangin´on/ You just keep me hangin´on”. De repente, um estrondo. Estilhaços de vidro por todo o lado. Olho, assustado, e vejo o meu capô todo amassado e o pára-brisa estourado. Em cima do capô, um vulto. Meu Deus, uma pessoa caiu em cima do meu carro. Um pára-quedista no meu pára-brisa. Apesar da ironia, da situação inusitada, me lembro que meu carro não tem seguro. Seria cômico se não fosse trágico. E a partir de então, aquele dia, definitivamente, não seria mais um dia como qualquer outro. Um dia qualquer.

Tuesday, January 30, 2007

Coffee and Cigarettes


Há muito aprecio o trabalho do diretor Jim Jarmusch. Boa parte de seus filmes eu vi ainda menino. Foi o caso de “Night on Earth”, um dos melhores, na minha opinião. E, agora, adulto, estou revisitando sua filmografia. É o caso de “Coffe and Cigarettes”. Quando eu iria imaginar, ainda menino, que um dia, já adulto, eu estaria redigindo uma resenha sobre este filme? Ainda mais num blog (!!!). Bom, deixando de lado todo o minimalismo da arte do excêntrico diretor de cabelos brancos, vamos abordar o tema principal de um de seus mais cultuados filmes. Mas, afinal, sobre o que é o filme? Errou quem falou café e cigarros. Acertou quem falou o nada, o vazio. É isso aí. Durante a exibição do filme, fica claro que se tirarmos os vícios e prazeres - cafeína e a nicotina - dos personagens, a única coisa que sobra é... conversa!!! E nada deixa uma pessoa mais constrangida, vulnerável e desconfortável do que um diálogo. Como um dos próprios personagens diz, o cigarro é como uma chupeta, algo que as pessoas levam à boca e a que se agarram como uma forma de proteção, para suprir uma carência. Problema na fase oral, diriam os psicólogos. Talvez. O certo é que tanto o cigarro quanto o café são vícios sociais, responsáveis pela socialização do ser humano. Você fuma para ser aceito e fazer parte de um grupo, você toma um cafezinho para botar o papo em dia. Mas tire tudo isso. Tire o café, tire o cigarro. As pessoas ficariam totalmente despidas, umas olhando para as outras, sem graça e sem saber o que fazer, o que pensar, o que dizer. Arrisco-me a dizer - mesmo não sendo fumante e mesmo vivendo em uma época politicamente correta, em que a sociedade se voltou contra a indústria tabagista - que a função do cigarro e a do café são uma só: fazer com que fiquemos quietos. Que assim seja. Saúde!

Saturday, January 27, 2007

Sempre Coca-Cola


Outro dia, eu estava dirigindo na Dutra e vi uma peça genial. A idéia é bem simples, talvez por isso mesmo seja tão brilhante. Os caras aproveitaram aquele típico aviso de "Mantenha distância" e o colocaram na traseira de um caminhão de Coca-Cola (não, não é o da foto. Este aí é meramente ilustrativo). O resultado foi uma frase mais ou menos assim: "Mesmo sendo difícil, mantenha distância". Vai dizer que não é duca? Quem é viciado em coca - estou falando do refrigerante - sabe muito bem do que os caras estão falando.

Publicitário perdido

O que a falta do que fazer não faz, não é verdade? Dia desses, estava pensando em como seria se eu tivesse sobrevivido a um acidente de avião e caído numa ilha deserta, como no seriado Lost. Tudo bem, a ilha de Lost não é tão deserta assim. Daí, fui mais longe ainda. Pensei comigo: para a sobrevivência do grupo, obviamente, um médico seria útil. Uma engenheira florestal seria útil. Um engenheiro seria útil. Um pedreiro. Uma cozinheira. Um pescador. Um caçador. Uma empregada doméstica. Agora, me responda: em que poderia contribuir um publicitário? “Meu Deus, cuidado, lá vem um urso polar. Rápido, Eduardo, faça um jingle”. “Nossa, estamos sendo atacados por um bando de javalis famintos. Peça para o Eduardo criar um slogan ou uma logomarca”. Patético, não? Pois é, acho que eu não teria muita serventia numa floresta. Embora o capitalismo seja selvagem, acho que publicitário só sobrevive mesmo na selva de pedra. Na ilha, na hora em que a fome apertasse, eu seria o primeiro a ser sacrificado e devorado pelos colegas, num ato desesperado de canibalismo. E os sobreviventes teriam uma bela duma indigestão. Ainda bem que tem o médico.

Wednesday, January 17, 2007

Títulos politicamente corretos

O vândalo quebra tudo. O bom cidadão quebra o silêncio.
(Campanha contra o vandalismo)

Coleta Seletiva. Separa o bom cidadão de quem não é.
(Idem)

Lugar de entulho é na boca da caçamba e não na boca-de-lobo.
(Idem)

Tuesday, January 16, 2007

Eu, Nietzsche e Shirley*

Muitos me perguntam por que eu largo minha mulher, meus filhos e o conforto do lar para entrar naquele antro do pecado, naquela pocilga suja, naquele puteiro. Dizem isso porque não conhecem Shirley. Shirley não é como as outras prostitutas. Shirley tem sonhos. Shirley é uma mulher profunda. Não que as outras putas mais jovens não sejam - e como são -, não estou falando neste sentido. Quero dizer que Shirley é uma mulher densa, de conteúdo, que gosta de ler, que gosta de Nietzsche. Lembro-me como se fosse ontem do ciúme que senti quando ela falou pela primeira vez de Nietzsche. Achei que era um amante. O dele é maior que o meu?, perguntei. Ela riu de mim e, enquanto fumávamos um cigarro no quarto alugado, ela me abria as páginas de um novo mundo, um mundo chamado “Assim falou Zaratustra”. Demorei algum tempo para aprender a falar Nietzsche e outro tanto para pronunciar Zaratustra. Mas Shirley me incentivava. Shirley sorria. Me ensinava sobre o niilismo. É uma corrente filosófica que concebe a existência humana como desprovida de qualquer sentido, dizia ela, em tom eloqüente. Aquilo era melhor que qualquer orgasmo, eu respondia. Ela acenava com a cabeça, concordando com o que eu dizia. E todo aquele vazio, toda aquela discussão sobre o nada, que mais parecia um episódio de Seinfeld, rendia horas e horas de conversa. Às vezes, eu pagava duzentos reais para ficar apenas conversando com Shirley no quarto, sem nos tocarmos, sem mantermos relações, sem nos beijarmos. Era irônico: a proteção que eu não sentia no seio da família, eu sentia ali, deitado com a cabeça sobre o seio de Shirley, como num divã de quinta categoria, que fedia a cigarro e a sexo. Quando eu estava em sua companhia, esquecia de tudo: dos problemas, das contas a pagar e, até mesmo, da Guerra do Iraque. Só pensava em Shirley. E em Nietzsche. Um verdadeiro ménage à trois filosófico. Uma das minhas frases preferidas dele era: “Aquilo que não me destrói fortalece-me”. Pensava sempre nela quando minha esposa quebrava os pratos na parede da cozinha, ao sentir em mim o cheiro de outra mulher, cheiro de perfume barato, cheiro de Shirley. Shirley estava longe de ser bonita. Estava longe também de ser a mais gostosa e caliente prostituta da casa. Mas era a doce Shirley, a minha Shirley, a mulher que me entendia como ninguém. Jamais ousei propor o lugar-comum “Vou tirar você desse lugar”, já cantado na voz de Odair José, mas no fundo, no fundo, era isso que eu queria. Queria tirar Shirley daquele inferno e fugir com ela para bem longe dali. Não me importava quantos amantes ela já havia tido. Eu só não poderia mais continuar a viver sem ela. Não podia mais dormir com minha esposa. Para mim, o casamento é uma instituição falida. O casamento, eu não. Eu tomo viagra. E, por isso, sou capaz de ficar horas e horas mantendo relações com Shirley. Mas a nossa relação é mais que física, é metafísica, espiritual. Porém, ninguém é de ferro. De vez em quando, eu vejo Shirley nua, linda, vulgar, e não resisto: tenho que preencher todo aquele vazio existencial. Certa vez, preenchi três vezes. Sem tirar de dentro.

* Texto fictício, baseado em fatos reais, relatados por um amigo.

Quando você for ao banheiro, durante o intervalo, cuidado: pode haver uma câmera.


Começou o Big Brother Brasil. Aquele período de três meses em que você deixa de ter vida própria. Deixa de cozinhar para ver os outros cozinharem. Deixa de tomar banho para ver os outros tomarem. Deixa de transar com sua esposa para ver os outros transarem (não com a sua esposa, obviamente). Você deixa de ler um bom livro para ver pessoas falando errado, fofocando, malhando. Você simplesmente pára o que está fazendo e fica ali, estático, completamente passivo diante do Grande Irmão, como havia previsto George Orwell, no livro “1984”. Você obedece às ordens dele: “espie”, “vote”, “ligue”, "assista", “compre”. Você não troca mais carícias nem palavras com sua mulher. Ela também não quer saber de você, pois prefere ver o marombado-anabolizado-acéfalo de sunga na piscina. Você tenta fazer cafuné nela e ela, delicadamente, pede para você tirar a mão e alcançar o controle remoto. Quer que você aumente o volume, não consegue ouvir o que as cobras estão tramando. Seu filho vem declamar o poema que ele apresentará amanhã na escola e você faz “Psiu!”. Parabéns, você acaba de estragar o moleque, com certeza ele carregará este trauma para o resto da vida. Depois não reclame se ele tiver pânico de falar em público. A culpa é toda sua. Sua e do Bial. Com a TV ligada na Globo, você nem sequer ouve o seu grande irmão de verdade - aquele, de sangue mesmo, filho da sua mãe e do seu pai - dizer que engravidou a empregada e que queria ouvir a sua opinião, se pagava pra ela fazer um aborto ou não. É, o drama não tá só na TV, tá na vida real também. Você vê o seu filho esquecer o trecho do poema de Camões para repetir até dizer chega o bordão “Ninguém merece”, uma gíria dita por algum participante idiota e que, com certeza, será utilizada em novelas, na propaganda e entrará para o dicionário Aurélio. Ainda não satisfeito com os flashes mostrados na TV aberta, você assina o canal pago com conteúdo exclusivo e câmeras escondidas até dentro do vaso sanitário. Talvez esta câmera flagre algo de melhor conteúdo do que aquilo que sai das cabeças dos nossos ilustres participantes. É, antes que o programa acabe, o seu relacionamento entra em crise e sua mulher o coloca no paredão. Será que você fica ou sai da casa? Da sua própria casa? Neste jogo, você pode acabar dançando - e não será aquela nova coreografia de funk, que o casal de participantes mais engraçadinhos inventou. A ironia é que parece que quem está preso e confinado dentro de uma casa são eles, os participantes. Mas não. É você. E eles até podem ganhar o prêmio de um milhão, mas você não. Vai continuar nesta vidinha de merda, com sua esposa chata - e que, cá entre nós, nunca posará para a Playboy -, sua casa sem piscina e aquele salário que não vale nem uma estaleca.

O meu saco está meio cheio ou meio vazio?


É difícil ser otimista quando um dos seus ídolos, e uma das suas principais influências, é o Harvey Pekar. Olha só o que o cara falou, numa entrevista para a Folha: “Sou um maluco, completamente obsessivo. Todos os dias, saio da cama e pergunto: ‘Hmm, o que vai dar errado hoje’”? Sentiu o drama? Quem quiser saber um pouco mais sobre este guru da auto-destruição, assista ao filme “Anti-Herói Americano” (American Splendor, EUA, 2003) e leia o álbum “Bob & Harv - Dois Anti-Heróis Americanos” (Conrad Editora, 104 págs.), com histórias desenhadas por Robert Crumb. Ah, mas se eu sou assim, a culpa não é só dele não. Além do próprio Crumb, minhas influências são: Woody Allen, Allan Sieber, Angeli, Fernando Bonassi, Arnaldo Jabor, Chuck Palahniuk, Sidney Araujo Junior, Marcatti, Lourenço Mutarelli, Glauco Mattoso, George Costanza e mais um monte de caras que sabem que a vida não é fácil. E que não têm a menor vergonha de dizer isso.

Enforcando o ganso

Finalmente chegara o grande dia. Na escuridão do quarto, apenas a luz azul da tela do monitor. Em volta, catorze olhinhos brilhavam, pequeninos e apreensivos. Sete anões que aguardavam a Branca de Neve entregar-se levianamente de corpo e alma a seu príncipe. O tão aguardado vídeo da Daniella Cicarelli transando com o namorado numa praia espanhola. O atentado ao pudor fora flagrado por um paparazzi e agora alimentava paixões adolescentes e hormônios descontrolados, ao ser divulgado para milhões de internautas voyeurs. Carlinhos havia chamado seis amiguinhos para compartilhar este momento. Era uma forma de tornar-se popular entre a molecada da rua, pensava ele. Era a única internet banda larga do bairro. Velocidade de três mega, dá pra acreditar? Se o tio de Carlinhos contava de forma saudosista sobre os campeonatos de porrinha à distância da infância perdida, esta era a versão da brincadeira em tempos de Youtube. Pronto: Carlinhos rápida e agilmente digita www.youtube.com na tela. Vocês estão prontos?, pergunta ele. Em seguida, ouvem-se os sons de zíper e velcro se abrindo em uníssono e desespero. Carlinhos digita “Daniella Cicarelli” e aperta o Enter. Silêncio. Tensão. Tesão. Sete coraçõezinhos batendo numa velocidade invejável a qualquer provedor de internet. Como um exército batendo continência de forma organizada e sincronizada, os sete soldados preparam-se para disparar. “Epa. A Cicarelli tem bigode?”, pergunta o mais ingênuo. Diante dos olhinhos assustados, surgia uma mensagem assustadora: “Uma ordem judicial determinou o bloqueio ao acesso deste vídeo”. E, automaticamente, aqueles espectadores foram encaminhados até o bizarro vídeo da execução por enforcamento do ditador iraquiano Saddam Hussein. A luz do quarto se acende. Todos fecham apressadamente suas calças e, envergonhados, se entreolham. Foi a última vez que se olharam. Foi a última vez que se falaram.
Moral da história: o que faz mal não é o sexo e nem a violência. É a censura.

Monday, January 15, 2007

Será que é a graxa misturada ao suor que deixa a mulherada louca pra fornicar?


É verdade! Em Caçapava, interior de São Paulo, tem uma auto-elétrica e funilaria chamada Funi-Kar. Tá precisando trocar o óleo? Então é só levar seu carro no Rei da Funikação.

Macaco Simão Urgente

Deu sexta, dia 12 de janeiro, na Folha ilustrada: “E a homenagem póstuma ao inventor do Miojo. Fizeram um minuto de silêncio. Errado! Em se tratando do inventor do Miojo tinha que ser três minutos. Três minutos e dois copos e meio d´água. Rarará”!

Deu ontem, dia 14 de janeiro, no resumão da semana: “E aí no Japão fizeram um minuto de silêncio. Errado. Devia ser três minutos. Três minutos e dois copos e meio de água. Rarará”.

Bom, quem é leitor assíduo deste blog sabe bem que o comentário acima é de minha autoria. Isso mesmo. Eu o mandei para o e-mail do José Simão, colunista da Folha de São Paulo, que o citou em sua coluna.

Só a edição de domingo teve uma tiragem de 388.146 exemplares, o que significa que meu texto foi lido por um número bem maior de leitores do que eu imaginava e do que este humilde blog poderia atingir.

Sendo assim, só posso agradecer. Valeu, Simão!

Thursday, January 11, 2007

Conversa durante um 69

- Laurinha?
- Ai, fala.
- Temos um problema.
- Ai, qual?
- O piercing da minha língua enroscou no piercing do seu clitóris.
- Ai, não pára.
- É sério. Não consigo soltar.
- Ai, são quase sete, meu marido deve estar chegando.
- O quê? Aquele psicopata vai me matar!
- Ai, vai nada. Aquele lá nem vai ver a gente aqui no tapete da sala. Vai chegar, dizer “Querida, cheguei”, sentar a bunda no sofá, ligar a TV, abrir o jornal e roncar em cima do caderno de esportes.
- E você me diz isso com esta calma?
- Ai, isso, assim.
- Você tá me gozando, né?
- Ai, de você, não. Mas tô.

Wednesday, January 10, 2007

The idiot*

- Amor?
- Oi?
- Já faz um tempão que a gente tá junto.
- E?
- E já faz um tempo que a gente não conversa, não discute a relação.
- Hum, sobre o que você quer conversar?
- Ah, nada especial. Sobre o tempo, sobre a vida, sobre a gente, sobre...
- Sobre?
- Sobre o Iggy Pop!
- Ah, sabia. Quando você vem com esse papinho furado, cheio de rodeios, sabia que iria chegar nesse assunto de novo.
- Então me fala, me explica: se ele é punk, por que então todo mundo o chama de Iggy Pop?
- Tá bom, vou te explicar uma vez só. Mas promete que não vai mais me encher o saco com esta conversa fiada?
- Juro, de pé junto.
- Então tá. Quando ainda cantava no The Stooges, ele era conhecido como Iggy Punk.
- Verdade?
- Vai deixar eu terminar de falar ou não?
- Tá, desculpa. Continua.
- Daí, depois que ele gravou “Candy” com a Kate Pierson, o cara foi amaldiçoado, sua vida nunca mais foi a mesma. Ele, que era considerado o pai - ou avô, tanto faz - do punk, passou a ser considerado um traidor do movimento, um vendido, um farsante, um...
- Um ídolo pop?
- Isso.
- Hum, sei. Você inventou esta história, não foi?
- Não, é verdade. Pode procurar na internet. Aliás, não sei se você sabe, mas “Candy” é considerada a música mais grudenta e irritante de todos os tempos.
- Amor?
- Oi?
- Não sei se você se lembra, mas esta música “grudenta e irritante” é a NOSSA música, que tocou na boate quando a gente se conheceu e se beijou pela primeira vez.
- Ué, não era “I Wanna Be Your Dog”? Jurava que era.


*Este texto é dedicado ao Alex e à sua filha Mariana, que acaba de chegar ao mundo. Que ela seja mais punk do que pop. Não, o Alex não é o idiota do título. É um grande fã do Iggy Pop. E, acima de tudo, um grande amigo.

Efêmero*

Dizem que sou pessimista. Será? Será que analisar a vida sob uma perspectiva pouco ortodoxa é não acreditar no ser humano, na vida? Tudo o que faço é apontar falhas numa sociedade cansada, cuja fórmula parece não dar mais certo. Talvez o que incomode meus críticos interlocutores seja o fato de eu ter coragem de dizer tudo o que as pessoas mais temem ouvir. Algumas verdades, outras meias-verdades, uma mentira aqui, outra ali. Grito, para que todos ouçam o quanto somos ridículos e patéticos, o quanto tempo perdemos atrás de sociedades utópicas, modelos de perfeição, relacionamentos perfumados, felicidades de supermercado, amores impossíveis produzidos em laboratório. Pra que tudo isso? Por que as pessoas são assim, comportam-se como tolas? O que as faz pensar que ter sucesso, fama e o carro do ano trará algo de bom a suas frágeis vidas? Por que essa busca incessante por algo que jamais cessará? As pessoas possuem necessidades que jamais acabarão, isso não é novidade para ninguém. Mas continuam obstinadas, obcecadas, obsoletas. Porque tudo na vida é um obsoletismo programado. A satisfação de nossas necessidades é um pote de iogurte com data vencida na gôndola do mercadinho da esquina. E não adianta você querer devolver: já está feito e você não pode voltar atrás.

*Texto escrito em 07/02/05.

Carnaval*

É Carnaval. Época de liberar as fantasias. É a chance do sexo livre, do travestir sem crise de identidade, da bebedeira com um álibi acima de qualquer suspeita. Os confetes grudados na pele suada, o cheiro de éter no ar, os tamborins que não cessam até o sol raiar, a camisinha que estourou na hora H. O menino que vai nascer sem saber qual dos foliões é o seu verdadeiro pai, a doença venérea que esticará o Carnaval como na Bahia, as marchinhas que grudam na cabeça como chiclete, os corpos sarados e bombados que desfilam como frangos assados em padarias decadentes. A menina que não gostava de ler, mas descobriu o sucesso que suas belas nádegas fazem ao rebolar em cima de um trio elétrico. O Batman que invocou com o palhaço, e vice-versa, iniciando uma verdadeira briga de galo na passarela. Resultado: um Robin órfão. Uma poça de sangue. Os faxineiros terão mais trabalho, além das serpentinas, confetes, leques com letras de samba-enredo, mensagens publicitárias, e preservativos usados. É, o Carnaval está acabando. Vou sentir saudades. É o ópio do povo, um mal necessário, uma válvula de escape para um povo tão reprimido. Reprimido por uma falsa democracia, em que são devotos a um deus não por respeito, mas por medo. O Carnaval continua sendo a melhor desculpa para tudo. Para todos os erros que cometemos. E na Quarta-Feira de Cinzas, o profano, de ressaca, finalmente encontrará o sagrado.

* Texto escrito em 07/02/05.

Monday, January 08, 2007

And Oscar goes to...

O Oscar está chegando. E eu já sei por quem torcer. Para melhor documentário, "An Inconvenient Truth", do Davis Guggenheim, em que Al Gore faz um alerta sobre os perigos do aquecimento global. Não sou simpatizante dos democratas - tampouco dos republicanos - mas os argumentos de Gore são irrefutáveis e alarmantes. Já para melhor filme estrangeiro - se Deus quiser, e for mesmo brasileiro, haverá um brasuca entre eles - fico com “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. Ah, e na grande noite do Oscar, para agüentar a premiação até o fim, mesmo com aquelas chatíssimas apresentações musicais e os intermináveis discursos de agradecimento, tomarei o café do David Lynch. É sério, o cara lançou marca própria de pó de café. Ou você pensou que ele tiraria o nosso sono apenas com a complicada e insolúvel trama de “Cidade dos Sonhos”? Mas peralá, US$ 25 o quilo tá muito caro, não tá? Por este preço, prefiro encher a cara - se o Brasil perder - de vinho Coppola.

Um minuto de silêncio

Não acredito. Não é possível. Não pode ser. Mas é verdade. Deu na Folha hoje: “Morre o inventor do macarrão instantâneo”. Se não fosse pelo japonês Momofuku Ando, fundador da Nissin, o que seriam dos meus solitários fins de semana em Caraguatatuba regados a miojo e refresco colorido artificialmente sabor laranja? Agora só falta morrer também o cara que inventou o Tang. Aí eu perco de vez a esperança na humanidade. Agora, por favor, peço um minuto de silêncio em respeito a Ando. Um minuto, não. Três. Três minutos. E 2 copos e meio de água.

Wednesday, January 03, 2007

Conluio

- Ei, ei, o que vocês estavam cochichando aí?
- O quê?
- É, nem vem disfarçar. Vocês estavam fofocando enquanto eu estava no banheiro e, quando eu voltei, vocês pararam. Pode falar, era de mim, né?
- Não começa, Alberto.
- Tá bom, vai dizer que não tava falando mal de mim pra sua amiga?
- Alberto, a gente tava falando sobre...
- Sobre mim, né? Eu sabia! Sabia que vocês estavam de conluio.
- Com o quê?
- Conluio, sua besta, não sabe o que é?
- Não sei e nem quero saber, porque eu sei que, se vem de uma mente neurótica e perturbada como a sua, coisa boa não deve ser.
- Não muda de assunto. Me fala: do que vocês estavam rindo? Era de mim, não era? Pode falar.
- Não falei que ele tinha mania de perseguição, Cleide?
- Ah, então foi isso que você falou pra sua amiga? Que eu tenho mania de perseguição?
- Não, Alberto, isso eu falei semana passada. Agora eu tava falando que...
- Eu vi você fazendo assim com a mão. Aposto que estava zombando do tamanho do meu pênis, né? Pois olha só, Cleide, eu vou mostrar pra você o tamanho do meninão...
- Alberto, por favor, não...
- Peraí, Cleide, deixa eu só abrir o zíper que você vai ver...
- Alberto, desce da mesa, por favor, tá todo mundo olhando.
- Ei, Cleide, peraí, aonde você pensa que vai? Espera um pouco, ele só precisa acordar. Está um pouco tímido.
- Alberto, desce daí, já chega! Garçom, a conta, por favor.
- Você tá chateada comigo, né, amor? Pisei na bola de novo, né?
- Ah, Alberto, você me enlouquece.
- Mas então por que você estava fazendo assim com a mão e rindo? Era sobre o tamanho, não era?
- Eu tava contando pra Cleide do dia em que eu peguei um comprimido seu, misturei com uísque e bebi, só pra dar barato. Eu tava explicando que o comprimido vinha num vidrinho verde assim, deste tamanho, ó. Só isso.
- Ô, amor, estou envergonhado. Me desculpe. Me perdoa. Por favor, faço qualquer coisa para você me perdoar.
- Hum, qualquer coisa?
- Qualquer coisa.
- Então me explica o que é conluio.

* Eduardo Spinelli é redator, roteirista, web writer e, nas horas vagas, escreve diálogos absurdos como este.

Tuesday, January 02, 2007

Xô, urucubaca!

De repente, você acorda. Não está mais em 2006, está em 2007. O ano passou, mas a ressaca de champanhe barato continua. Os fogos acabaram faz tempo, mas você continua de fogo. Você olha ao redor e vê que nada mudou. As pessoas continuam hipócritas, os políticos continuam corruptos e as mulheres, bem, as mulheres parecem ser as únicas que mudaram, ficaram menos feias, mas deve ser por causa da bebida. A chuva continua a cair sem parar e você, ah, você, sempre otimista, continua a acreditar que a chuva vai lavar a alma, que todas as agruras de 2006 ficaram para trás. Você não acreditou que seria assim tão fácil, não é mesmo? A verdade é que a chegada de um ano novo não muda nada se você não quiser mudar. Então, mexa esse traseiro e mude. Mude o corte de cabelo, mude o vaso de planta de lugar, mude seus hábitos, mude a posição dos móveis na sala, mude a posição na hora de transar. Mude de endereço, mude de cidade, mude de país, mude de atitude. Mude sua perspectiva, mude de time, mude de religião, mude de sexo. Mude, simplesmente mude. Mas mude pra melhor. Mesmo que o melhor, num primeiro momento, não pareça tão bom assim. Com o tempo, você se acostuma. Não tanto a ponto de ficar acomodado, mas o suficiente para que você tenha vontade de mudar de novo. O importante é, mesmo que não tenha conseguido pular sete ondinhas, você consiga dar um salto pra frente. Um só. E para começar o ano com o pé direito, basta somente um passo, mas tem que ser aquele passo bem dado. Com vontade. Pra trazer sorte. Vai, vamos lá, coragem. E, depois nada de olhar as pegadas que você deixou na areia. Isso sim dá um baita azar. E de azar, basta 2006. Saravá!

O primeiro texto do ano

Ano Novo. Uma nova vida que começa. Será? Será que a simples mudança no calendário vai realmente mudar alguma coisa na nossa vida? Ou será que a mudança está dentro de nós mesmos e pode acontecer a qualquer momento? Eu, particularmente, acredito mais na segunda alternativa. E é por isso que comecei a mudar antes mesmo do ano (que passou) terminar. Comecei com pequenas atitudes. Pequenas mesmo, do tipo parar de roer as unhas. Roer as unhas faz parte do meu passado, hábito antigo, não quero mais. Estalar os dedos eu bem que tentei parar, mas vou deixar para o ano que vem. Ah, tem as grandes mudanças também. Este ano, eu decidi morar em outro lugar, conhecer outras pessoas, visitar outros mundos. Isso vai me fazer bem. Bom, pelo menos acho que mal não fará. E outra: coloquei um ponto final em tudo o que não estava me fazendo bem em 2006. Amantes que não me amavam, parentes que eram serpentes e amigos não tão amigáveis assim. Bem, não sei se foi um ponto final, mas pelo menos um ponto-e-vírgula, uma pequena pausa para dar uma respirada. Precisava de ar, tudo estava me sufocando. E agora chegou a hora de respirar novos ares. Se vai dar certo? Ano que vem eu lhe respondo.